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Todos dizemos que aceitamos a morte. É uma coisa da vida, costumamos afirmar. Para lá caminhamos, repetimos.
Somos pretensiosos ao ponto de encolher os ombros perante a morte. Usamos o verbo morrer com a mesma normalidade com que usamos o viver, ou o amar, como se fossem todos da mesma família. Como se partilhassem realidade, como se viver sem o amor dos que morrem fosse um processo simples e finito.
Mas, não – fingimos que os compreendemos mas não o fazemos de facto.
Morreste-me. Morreste-nos. Deixamos-te ir, mas não queremos que vás. Vais, mas nunca te largamos.
Ninguém morre. As pessoas morrem-nos, a nós, que cá ficamos nas ausências.
É quase como se fossemos amputados, mas, em vez de uma perna, nos levassem um pedacinho de coração. Continuamos a senti-lo por um tempo, ali, pertinho do ventrículo, até um dia em que recebemos que ele se foi – que o enterramos.
E, voltamos a chorar. E, continuamos a sofrer.
Depois, cabe-nos a nós, e ao tempo, seguir em frente, remendando o coração com as memórias de quem nos morreu – a nós que o amamos, a nós que, o perdemos.
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