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Nunca me chamam Marina quando leem o meu nome. No médico, em entrevistas de trabalho, na escola.
Sou Mariana, Maria, Marisa, Marta, Rosa, Paula, Ana e o que mais lhes apetecer, mas nunca Marina.
NUNCA.
O caso piora quando não satisfeitos com o primeiro nome falhado passam para os apelidos. Zenha. Com “ z”. Não Senha nem Azenha. E sim, Ricardo como os homens.
Sempre acreditei e defendi a vida. Viver, sempre me pareceu desafiante e proveitoso.
Nunca acreditei nas depressões, mas sim em pessoas deprimidas. Em tristezas tão profundas que magoam, que matam aos poucos. Assim como nunca acreditei – se é que é uma questão de crença, na psicologia, nem mesmo quando a tive que a estudar. Não acreditava, nem acredito, de certo modo, que leis e ideias concebidas há mais de 50 anos possam revolver problemas específicos de pessoas, de todas as pessoas, ao longo dos tempos.
Porém, depois de uma análise mais profunda, pessoas são pessoas, sempre o foram e sempre o serão. Os seus problemas e dores são patentes à sua condição humana e talvez sempre venham a ser – todos semelhantes, todos diferentes.
Mas, nunca compreendi o desespero que leva alguém a preferir a morte em detrimento da vida. Isto talvez porque nunca ponderei desistir. Lembro-me uma vez, em que no decorrer e um trabalho de interpretação, tive de escrever e dar vida a uma carta de suicídio. Depois de horas a tentar escreve-la, sem sucesso, criei uma personagem. Só assim fui capaz de cumprir tal tarefa – sair de mim, entrar no sofrimento ficcionado de outra pessoa.
Porque talvez tudo se resuma a isso – sofrimento. Sofrimento e crença no seu fim instantâneo.
Talvez longe daqui sejamos todos pássaros que voam além céus, asa bate, asa bate.
Eu, teimosa por natureza, quero acreditar que somos caixas. De diversos tamanhos. Diferentes cores. Tamanhos disformes. Umas mais rasgadas. Outras rotas. Mas, todas passiveis de arranjo. Todas perfeitas à sua maneira, com mais ou menos cola, mais ou menos amassadas.
Acredito na esperança e nas pessoas. Pessoas que ajudam pessoas, pessoas que amam pessoas. Pessoas que salvam pessoas, pessoas que se salvam.
Acredito em salvação. É nela que acredito.
Que este tempo sirva para criar raízes. Para as fazer crescer e penetrar solo fértil.
Que sirva para eu me ligar – mais -, ao chão que piso.
Que me faça crescer, crescer, tal qual girassol no verão procurando o sol.
Que me faça recriar-me, reconstruir-me e desarmar-me dia-a-dia. Que seja descoberta, a minha descoberta.
Que me permita recuperar o folego, uma e outra vez. Sem parar.
Que me leve a novos caminhos, sem perder os velhos de vista. Que me faça tentar uma e outra vez, porque por mais difícil que esta tarefa seja, desistir não entra na equação.
Que me faça amar, mesmo que o coração fraqueje. Que me faça acreditar, mesmo que a esperança esmoreça. Que me faça forte, tal qual mil rochedos. Que me faça cair e levantar no mesmo segundo. Que me faça ser acrobata em linha fina. Mas, que, mesmo assim, me faça feliz. Feliz e reinventada…
Que seja melhor do que Setembro.
Com mais oportunidades. Com Mudanças Boas! Com risos, Muitos risos! E felicidades, a mesma de Setembro, com mais um pitadinha trazida pelos ventos do Outono.
E mais um ano, um aniversário, a este velho corpo.
E um vendaval, um furacão dos bons, eu, aí, nesse grande mundo.
Existe uma relação demasiado direta (e revoltante) entre o muito que se fala e o nada que se faz em termos políticos e sociais neste país à beira mar plantado.
Dei por mim, no silêncio da madrugada, a pesar os prós e os contras.
A pensar se vale a pena perder tudo por ideias vagas de sucesso. Estarei eu preparada para partir, uma vez mais, de modo mais definitivo? Será que longe de tudo verei o que aqui me parece nublado e distante?
Estarei desposta a perder o barulho das horas, da casa, dos meus e meu?
Serei capaz de fazer a mala, deixando para trás o conforto e o conhecido? As ruas, as vielas, as pessoas que de tão minhas me pertencem?
Estarei pronta para o corte, para o voo e para o desmamar?
Talvez sim. Talvez não? Porque pensei que era eu, e eu não sou. Pensei que fosse aquele e ele não é… Pensei que fosse assim, simples, e não está a ser.
Porque talvez eu não esteja pronta. Não, não estou.
Prova disso é o facto da minha cabeça rebentar de dor.
Dói, dores fortes. Mau estar, que leva ao mau feitio e ás dores no resto do corpo.
Estou cansada, oh, tão cansada...
Por isso, vou tomar - uma vez mais - uns comprimidos, e já volto.
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