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Tempo para ser. Eu ou qualquer outra que se insurja.
Ser. Assim, livremente, porque não.
Ser zangada e criativa. Ser a que escreve e a que finge nem sequer saber ler.
A que se sabe decor a que ainda não se criou.
Tempo para ser.
O meu corpo não está adaptado para tanto calor. De todo. Nem o meu corpo, nem o meu cérebro.
(Nem claramente a minha pele. Com este tempo nem com o protetor 50+ nem safo....).
Apercebi-me que não consigo estar quieta. Nem consigo fazer só uma coisa de cada vez.
Tenho sempre medo que o tempo não me chegue. Estou sempre preocupada em fazer tudo, e no mais curto espaço de tempo possível.
Se parada, estou sempre a bater o pé, a roer as unhas, a mexer ora aqui, ora isto, ora aquilo.
Estou sempre ocupada, tenho sempre coisas pendentes, um monte de coisas para fazer. Estou sempre atrasada. Nunca tenho tempo. Mesmo que não tenha nada para fazer.
Raramente me concentro porque estou sempre a pensar em mil coisas ao mesmo tempo.
Deixo de ouvir, deixo de estar onde estou e entro num transe só meu onde tudo é reboliço.
Estou no centro do meu próprio tornado. Sou a força e o vento que o faz correr. Sou eu quem me faz girar. Sou também eu que (me) destruo.
Estou a fazer um caderno de recortes e colagens.
Não sei se o estou a fazer bem, ou mal, se está bonito ou muito pelo contrário, feio, feio....
Só sei que com dedos com cola e tiras de jornal sobrepostas uma sob as outras, a minha mente sossega e deixo de me ouvir.
Só sei que assim, enquanto escrevo sob amontoados de papel, o meu coração esbatesse o batimento e a respiração estabiliza e eu fico mais perto de mim. Fico mais perto de casa…
Está a chover lá fora e eu pensei em ti.
A cada gota que cai, do outro lado da janela, penso em nós. Lusco-fusco, em tom de recordação gasta e envelhecida.
Um bolo assa no meu forno – sabias que amo cozinhar?
A chuva não para de cair e eu deposito os meus pensamentos em ti. Coisas suaves, despretensiosas…
Sentei-me, for fim, nas cadeiras antigas da cozinha enquanto imagino o que hoje, enquanto chove, tu fazes.
Comprei uma forma em forma de coração. Vermelha. Para libertar a dor e a transformar em amor... gostava que soubesses. Não sabes.
Está a chover lá fora e eu pensei em ti. Está um bolo a assar no forno, cheira a canela… e a chuva não para.
Tenho limado as unhas. Muito. Até à exaustão – minha, delas e das limas.
Suponho que tenha descoberto que se as tiver curtas e pintadas não cedo à tentação de as roer.
Tenho saído muito, ou não saído de todo. Estou a viver de estremos.
Tenho lido muito – não os livros do costume, mas sites sem interesse cheios de promessas e nada de realidades. E tenho escrito muitos emails – oh que tantos foram e nada mudaram.
Tirei tempo para pensar. E já pensei muito. Talvez tenha feito grandes mudanças em mim sem saber. Às vezes essas coisas demoram a perceber.
O meu cabelo cresce rebeldemente pelas costas abaixo e eu deixo-o seguir o caminho que escolhe sem interferir. Haja alguém que possa fazer o que quer, sem imposições.
Hoje não fiz as malas. Se há três anos não as querias fazer, hoje gostava de sentir a sensação de me empacotar de novo. Mas, ele partiu, e agora não é só espaço psicológico que nos separa é terra, quilómetros e quilómetros de terra e vidas.
Sinto-me um fantasma. Por estas e pelas minhas bandas. Publico, não comento, nem respondo. Escrevo posts, textos e poemas em talões de supermercado e na pele, tal qual tatuagens a medo, com medo de os perder e de me apagar.
Tenho tanto a dizer, mas rareira a força anémica… rareia-me o eu, e eu e as palavras que ao saírem do coração e ao passarem pela boca perdem sentido, perdem velocidade, perdem-se, perdendo-me.
Fala-me do tempo. Esse ladrão solitário, calado e matreiro.
Fala-me dos anos, dos que perdemos e dos que estão por vir.
Fala-me e o tempo deixará de existir aqui, no espaço onde o pararemos.
Fala-me dos dias, esses que me prenderam e me largaram. Esses que me fizeram, me moldaram e me libertaram.
Fala-me do tempo que é meu. Desse que quero agarrar. Desse em que fui fracasso e me tornei glória.
Fala-me do tempo. Esse rei generoso, barulhento e abastado. Esse que dá, esse que tira. Esse que manda e é nosso.
Lembram-se de quando eram pequenos e estavam doentes? Dos miminhos da mãe, da cama quentinha, das meias de lã e da chuva lá fora?
E dos dias sem ir á escola, lembra-se? De quando iam ao médico e ele vos dizia “ têm de ficar pelo menos 3 dias de cama!”? No meio das dores e medicamentos, aquelas eram, sem dúvida, palavras mágicas!
A mãe fazia-nos canja e víamos muitos desenhos animados. Os deveres eram trazidos, ao final do dia, pelos amigos: vocês deitadinhos no aconchego dos cobertores, os amigos aos pés da cama, conversavam sobre as novidades daquele dia e sobre a matéria…
Agora, doente ou não, tenho obrigações reais para cumprir. Tenho compromissos aos quais não posso faltar. E de que adianta o médico me mandar ficar de cama?.... De nada, diria eu…
Não é possível abrandar o ritmo frenético do meu mundo.
As horas são escassas e não há tempo para descansos…
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