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Gostas de ver o fogo a arder. Chamas altas. Pavio curto.
A vela nunca se apaga, mas carregas os bolsos cheios de cinzas.
As sardas desenham constelações nas tuas bochechas. Universos inteiros
de estrelas cadentes dançam , na tua cara quando te ris à gargalhada.
E, eu, comum mundano, vivo impaciente, enquanto, de mãos trémulas, tento alcançar a via láctea que te rola dos olhos sempre que choras quase sem te dares conta, nestas noites de fevereiro.
O tempo arrefece. As supernovas explodem. Novos planetas dançam com os anéis dos teus dedos.
E eu estou a anos luz de te apanhar, noite estrelada.
Inquietação. Insónia.
Ardor, não no corpo, na alma.
A cabeça queima, não a testa. A febre nasce-me do peito. Coração acelerado, que quer ter sempre razão.
Há dias em que me dói o ser. Ser.
Cansam-me as pessoas que sou, que me torno, em torno dos problemas.
Hoje acordei convencida de que posso pôr o mundo no bolso e seguir pelo caminho que a febre, em delírio, me fizer escolher.
Só não escrevi o que não quis sentir.
Tem chovido a cântaros.
Rios alma afora.
Desmarquei os planos com medo que a enxurrada os levasse.
Fiquei encharcada e de agenda vazia.
Queria que o meu mar revolto amainasse. Que a maré fosse vaza.
Estou cansada de marés vivas e sem marinheiros.
O vento uiva. Sopra-me do coração.
Estou cansada da tempestade. De barcos á vela e de dilúvios quando ao peito não trago guarda chuva.
Fecho os olhos. Aconchego-me na cama fria e penso na chama quente que em tempos trazia ao peito. Farol.
Neste último ano às vezes, posso ter-me esquecido - sim, esqueci... - que a paz e a força vêem de mim.
Também me posso ter atrapalhado com as espectativas e posso ter-me tentado, outra vez, pôr naquela estante onde não quero estar.
Mas, estou a aprender. A errar e a seguir.
Acho que estou feliz - e com bichinhos carpinteiro, como sempre. É sempre bom sinal.
Às vezes não me entendo e venho aqui ler-me á procura das minhas legendas.
Tenho deixado a paixão morrer. Nos espaços vazios tenho posto sonhos novos, aldrabados e irreais.
Convenço-me que a minha paixão pode arrefecer. Que um dia a deixo em lume brando, ao fogão. Que não queima, não evapora.
Tenho deixado a paixão definhar e, com ela moribunda no regaço, sorrio e teimo em dizer que a tenho no bolso quente, amada e estanque.
Finjo acreditar que a adrenalina de estar vivo volta. Que a paixão também.
Tenho mentido muito. Aos outros. Principalmente a mim.
Desfruto o silêncio com a mesma devoção e amor com que procuro preenchê-lo.
Rejubilo e enlouqueço nas noites quentes e caladas em que, horizonte escuro como breu, espero que ninguém note que, aqui sozinha, não passo de mais uma pessoa só e calada, assustada e fascinada com o silêncio que aqui se faz.
A sociedade, os órgãos de poder, tem que parar de projetar os seus medos e cresças na vida e na realidade dos outros.
As minhas decisões, na minha realidade, quase sempre privilegiada, não podem definir a vida e as escolhas dos outros.
Dar opção, dar escolha não pode ser sempre limitado pelo que os outros, pelo que eu, tão cheia de mim e de moralismo, acham aceitável.
Pelo eu faria se... A minha vida as minhas escolhas. A tua vida, as tuas escolhas.
E, hoje é mais um dia em que esta simples ideia não pode ser alcançada: A minha vida as minhas escolhas. A tua vida, as tuas escolhas.
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