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Não te amo. Jamais te poderia amar.
Amo a imagem de ti que vive projectada na minha mente.
Amo a mentira e a atmosfera mítica de perfeição que criei em teu redor.
Amo amar o amor que nutro pelo tu que idealizei.
Não te conheço. Criei-te à semelhança das minhas necessidades e caprichos.
Conheço a melhor parte de ti, a que ficou tatuada em mim, a que não existe.
Amo-te num sonho. Num passado, num futuro, nunca num presente.
Amo o tu que desconheces. Amo-te no silêncio da tua inexistência.
Amo-te. Amo-te, mas não a ti.
Incendiei os altares da terra.
Fui ao inferno. Ardi nas suas chamas, foi consumida pelo seu fogo.
Senti as labaredas dentro de mim, a queimar a minha essência.
A minha alma ardeu, e eu vendi-a ao Diabo.
Fui ao abismo, para além do fim do mundo, onde o fogo devora, e voltei.
Voltei a arder. Incendiei a chuva, sequei as lágrimas para todo o sempre. Enrijeci como lava de vulcão ao vento.
Queimei as mágoas. Todas elas. E voltei.
Fecha os olhos, e no escuro da noite, no negrume da tua mente reza ao Deus que te virou as costas, que te esqueceu.
No pavor da tua fria solidão, chora uma lágrima quente e acolhedora. Vê a tua casa. Sente-a na tua pele.
Na incerteza do teu futuro, vê a tua essência. Projecta-a nos teus passos vacilantes.
Faz a Fénix da salvação arder em ti. Dentro de ti. Ao teu redor.
Sê. Sem limites, sem poluentes, sem artimanhas.
Sê. Simplesmente, Sê!
Sou mais do que a carne que me prende, me confina, me limita. Sou maior que os ossos que me dão forma.
Sou do tamanho da minha alma, da minha essência, do meu pensamento.
Sou grão de areia, que é pirâmide.
Sou brisa, que é furacão.
Sou chuva, que é tempestade.
Sou gota, que é mar.
Sou céu. Sou infinito.
Sou mais. Muito mais. Maior. Enorme. Tão grande quanto eu quiser.
Ou sou nada. Ninguém. Sombra. Tão subtil e invisível quanto eu quiser.
Mas, mesmo assim, maior, melhor do que a vista pode alcançar.
Queria que estivesses aqui…
Aqui, ao alcance do toque, do outro lado da linha, ao virar da esquina, à saída da porta.
Queria que estivesses por perto…
Pertinho o suficiente para me ouvires, me sentires, me dares a mão e ensinares o caminho.
Queria que entrasses de novo, que nada se alterasse, que tudo fosse mentira.
Queria que o teu sorriso, a tua gargalhada, a tua voz não fossem só memória; queria que a tua vida não fosse memória.
Queria mais do que o teu olhar sereno, distante e sofredor.
Queria salva-te. Tirara-te desse corpo que não pode ser o teu.
Queria-te de volta. Agora. Como sempre. Tal como dantes.
O tempo agora é difuso. Tudo é estranho e vão.
Há um leve tom escuro na paisagem, uma moldura irreal.
Nada faz sentido, não estamos onde deveríamos, não somos quem éramos.
Tu não estás no sítio certo, na postura certa, no corpo certo.
As luzes que nos iluminavam desapareceram, foram-se. Estamos às escuras, sem luz, sem ver, sem saber o que está à nossa frente.
A qualquer momento podemos cair, não há avisos ou escapatórias.
Um dia, vamos todos cair. E não haverá mais saída.
Um dia…
Mas, enquanto esse dia permanece num futuro desconhecido, continuamos aqui, a aguentar firme, dia, após dia.
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