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Acordei esta manhã com um telefonema. Do outro lado da linha marcaram-me uma entrevista na cadeia de supermercados, onde já trabalhei.
Embora esteja radiante pela primeira resposta positiva ao fim deste tempo (infinito!), não posso deixar de m sentir deprimida por a proposta ser para uma caixa de Continente, em vez de uma secretária num jornal.
É bom, muito bom, nos dias que correm, mas não deixa de magoar o coração e ferir o ego.
Desejem-me BOA SORTE! Acho que vou precisar!
Quando entramos para a universidades enchemos as bagagens de sonhos: sonhos de uma maior formação, de uma vida melhor, de um futuro risonho e de felicidade à mistura.
Porém, cedo percebemos que o curso nem sempre nos abençoa.
Comecemos por analisar um pós-licenciatura (tipo pós-parto, mas sem o bebé) face à crise:
Depois de os nossos desgraçados pais derreterem as poupanças de uma vida na nossa formação – no meu caso não sinto que o estado português tenha feito grande sacrifício, esperamos, dois dias depois de ter o canudo (minto, o canudo custa 120 euros, por isso não o tenho. Tenho, por outro lado um certificado de 15 euros (o de 40 era demasiado caro!)) na mão arranjar emprego.
Ainda sem trabalho, semanas depois, e de certificado pomposo na mão, inscrevemos no centro de emprego. Esperamos que lá nos ajudem, e não nos transformem em mais um número do desemprego.
Desenganamo-nos quase logo: emprego não há, e cursos para licenciados acabaram, “pena não ter ficado só com o 12º”. Meses decorridos, percebemos que aquele lugar apinhado devia mudar de nome: Trocar o emprego pelo desemprego, uma vez que “centro de Desemprego” que serviria muito melhor.
Por outro lado, como não trabalhamos – nem agora, nem antes, não somos abrangidos por nenhum tipo de subsídio.
Aqueles dinheiros que a tanto sacrifício guardamos de todos os trabalhitos que fizemos enquanto estudantes, acabam enquanto o diabo esfrega um olho – e puf, foram-se.
Começamos a conciliar os pedidos de emprego na nossa área com os part-times nos supermercados e lojas.
Mas, para aí temos demasiada formação. Ora se até aí no faltava o requisito “experiência comprovada e superior a dois anos”, agora somos “demasiado estudados” para servir às mesas.
Pressionados pela necessidade de vida própria de autossustento, o dito cujo dinheiro, começa a fazer falta. Mas, não há raio de situo onde o passamos ir buscar, fazer de volta.
Procuramos e procuramos. Fazemos projetos, apresentamos auto-candidaturas e respondemos a anúncios, E Nada. Nada a mais, dignidade e autoestima a menos.
Pensamos em mentir no currículo, e nas entrevistas se tivermos a sorte de sermos chamados. Dizer que temos mais experiência para uns, afirmar a pés juntos que nunca entramos numa universidade para outros. Mas, os nossos pais não nos ensinaram a não mentir?
E assim o nosso país – um dia terra prometida, nos deixa abandonados e nos rouba, nos rouba a dignidade e raça que trabalhamos anos a fio para conseguir. Nos rouba os sonhos e tenta impingir-nos outros que não são nossos. O país que os nossos pais contribuíram – e contribuem, para formar, nos manda para fora….
Um dia, um dia passo-me da cabeça, faço as malas, vou embora e passo a chamar meu país a outro. Afinal papel e caneta há em todo o lado, não é?
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