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- Podes trazer-me ovos? – pedi mal ela atendeu o telefone.
- Olá para ti também – repreendeu-me de mau modo.
Suspirei.
-Trazes-me, por favor, ovos? – pedi num tom fraco e baixo.
- Quando tencionas sair de casa? - a sua voz era acusadora.
- Quando a comida acabar – respondo simplesmente.
De facto não tinha um plano elaborado sobre a data específica em que tinha de sair das paredes da minha casa. Decerto teria de sair antes de se acabar o alimento nos armários. Mas, de certo modo pretendia adiar a saída. Não queria, de modo algum cruzar-me com, bem, com quem não me queria cruzar.
- Tens de sair de casa. Vai tu comprar os ovos – respondeu ela no mesmo tom severo.
- Mais depressa me entra uma galinha pela janela e me põe um ovo na mesa da cozinha, do que eu saio de casa para os comprar!
Seguiu-se um silêncio. Sabia que do outro lado da linha Ema pensava nos prós e contras de sair e fazer as minhas compras.
Ela sabia que, muito possivelmente a minha teimosia ganharia à necessidade pessoal de ter ovos para confecionar um qualquer bolo altamente calórico que me aqueceria o estômago nessa noite.
Dividi-te em duas.
Passado e Mágoa.
Separei-te em duas para manter em mim a melhor parte de ti.
A essência, não o medo.
Parti-te em duas e agora não sei como te juntar.
Amor e dor, com cova ao meio. Sem ponte.
Dividi-te me duas para não te perder. Mal eu sabia que já te tinha deixado ir, mal eu sabia que te ia querer de volta.
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