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-Não, não lhe posso dar o dinheiro - esbracejava a E., no balcão de informação.
- Jsfnhjhgfjtghujtgh - respondia o casal, tentando manter uma conversa, embora não falasse português. Ao que parecia, eram ucranianos.
A E. voltava a esbracejar, tentado, por gestos, fazer-se intender.
E é assim muito complicado a um casal de leste que não há em stock colchões de ar para troca...
Um destes dias andava eu pelo facebook e encontrei uma frase que me chamou a atenção. Comentando uma foto de uma das (melhores) amigas eu fiz na universidade, outra colega escreveu “o teu lugar é numa TV”. Não me demorei muito a pensar se seria verdade ou não (ela tem um talento inegável e uma relação de atração com a câmara), mas, o que captou foi a expressão “o teu lugar é…”.
Durante estes últimos meses muito tempo dispensei à ideia do lugar onde pertenço. E penso não ter chegado a grandes conclusões.
Talvez grande parte dos que me rodeiam pensem que, neste momento, estou no lugar errado. Porém, raros são os momentos em que me sinto erradamente colocada. Sinto-me bem – muito bem, aliás, com a posição que ocupo por estes dias.
Suponho que na vida passamos mais de 90% do nosso tempo a tentar encontrar o nosso lugar neste grande mundo, sem nunca percebermos que enquanto questionamos o assunto não estamos a ver o local onde estamos. Esse pode muito bem ser o nosso lugar no mundo, a nossa “casa”, e com pressa e procura incessante nem demos por ela.
O meu lugar pode ser aqui, tal qual como estou, pode ser do outro lado do mundo, pode ser numa floresta a comer peixe cru, pode ser num orfanato a limpar cocó mal cheiroso de pequeninos na china, pode ser além de mim, sem ela, com ele, sem ninguém ou com todos.
Decerto não será para onde me mandam – aposto que poderá ser onde caí sem querer ou onde escolhi estar. Pode ser um jornal, um supermercado, um hospital ou uma selva. Não sei, e acho que, por agora, estou mais desafiada a decorar cada local por onde passo. Sabe-los de cor, e tê-los em mim, sabe-los e não deixar que eles me sufoquem, parece-me um bom objetivo para as próximas semanas.
Possivelmente nem no último suspiro venha a perceber qual é, ou qual foi o meu lugar por estas bandas. Só espero ter sido feliz e completa por todos os locais por onde passei – nunca nada menos do que isso.
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