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Costuma dizer-se que todos têm um lado negro. Eu acho que sou um buraco negro com fendas de luz brilhante ao centro. Não é mais difícil viver assim – é exatamente o mesmo fenómeno de inspira, expira, mas apenas o fazemos cientes de que há em nós tudo o que nos pode matar e renascer – assim, em minutos.
Há tanto em mim debaixo de uma rocha de memórias, pequenas fendas de luz por cima de pedras a caminho do coração, ou no esófago, ou nos pulmões. Tanto chá quente de limão como ácido nas feridas, tanto preto quanto cinzento, tanto branco como pérola.
Muitos são os dias em que me finjo luminosa quando em mim o negro impera, porém aprendi a controla-los da mesma forma que travo a língua em momentos de maior stress.
Acho que, ao fim de alguns anos, comecei a conhecer-me totalmente – sem reservas, sem paredes, assim, nua e crua, fria e incandescente. Assim, negra e branca, vermelha e azul, sangue sob pele, pele sobre osso.
Não que agora tenha menos medo – tenho mais, muitos mais, espalhados pela face, nas pálpebras, debaixo delas, apenas perdi o medo de me magoar. Se cair, caí, já estive tanto tempo caída… se doer, há-de passar. E, posso não saber como parar, mas sei sempre como seguir em frente. Não há mão que apague a infelicidade, ou amor que floresça sempre, e não há mal algum em caminhar sozinho de quando em vez. Tudo são fases e aprendizagens nossas e dos outros em nós – e há sempre sol nos outros quando o nosso adormece.
Costuma-se dizer que todos têm um lado negro, eu digo que tenho um lado brilhante. E, no fim de contas, devia mudar o nome para esperança porque sei que ela, mesmo que eu ache que a perdi, ela circula-me nas veias – nas negras e nas iluminadas.
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