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Agarrou-se a ele, de olhos molhados e sonhos vãos.
Como se aquele corpo desnudo e desanimando, adormecido em seu regaço, fosse tábua de salvação.
Havia ali tanto desperdício, pensou enquanto lhe afagava o cabelo acobreado. Desperdício de amor - dela, de juventude - dele.
Apertou-o uma vez mais junto ao peito, apertou-o mais um pouco quando o deixou de sentir. Queria senti-lo antes que ele, como miragem, se desfizesse em areia do deserto.
Era amor - ela sabia-o. Podia jurar que era ele, seria sempre ele, mesmo que não fosse ela, nunca ela.
Foi tomada por uma dor dilacerante e cortante. Estava a deixa-lo ir. Sentia o seu coração desintegrar-se, fragmentar-se naquela grande parte que era dele, que era ele.
Desenterrou-o para o deixar morrer dela, nela. Aquela era a prova que faltava, o derradeiro sacrifício: deixa-lo ir para voar noutra paragens.
Chorou-lhe uma última lágrima, sussurrou-lhe (mais) um último "amo-te" e ele desfez-se - dela, nela.
Soltou-o no suspiro seguinte. Sentiu-se (mais) fazia. Vazia dele.
Aprendo depressa, mas não adivinho.
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