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Deixei de contar o tempo.
Ficavam-lhe os fios ruivos presos nas portas. Nas frinchas, nas janelas.
Para onde quer que se virasse partia sempre um. Ou dois. Três ou quatro jaziam sempre, quais teias coloridas emaranhadas, no chão.
Nunca conseguia alcançar as saídas, quanto mais as entradas. O cabelo, outrora idolatrado, prendia-se agora nas umbreiras das portas. Nas dobradiças emperradas. Prendendo-a a ela. Dela. Dos outros.
Então, num dia de nevoeiro e contra todas as esperanças, corto-o. Assim curta e grossa, assim curto e bravio.
Meio milhar de linhas finas de cor ora vermelha, ora laranja, adornavam agora chãos alheios. Sem dono, sem limite.
Não mais se prendeu em portas. Claro que agora não sabia os caminhos, nem havia onde esconder as sardas ou as faces envergonhadas. Acabaram-se os medos e os cortinados de cabelo.
Ela não mais ficou presa, não mais o cabelo se prendeu nas portas dos outros. Só nas suas. Nas dela, quando estava de passagem.
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