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Ela é uma ilha. Um punhado de terra vazia e selvagem rodeada de mar frio e revolto. Mar esse que ela evita e sacode dessas terras assombradas.
Ela é uma ilha. Só, na escuridão do oceano, em inverno permanente.
Largada nesse mundo redondo, esquivo e demasiado grande, ela ficou à deriva quando recusou o passaporte para o futuro, tentando retornar para esse passado em que fora cidade movimentada.
Queria ela voltar àqueles dias de sol alegre em que ela, assim sem querer, pintara o quadro difuso, confuso e negro em que agora vivia. Àqueles dias, em que em que com um desespero vindo de nenhures, cortou as cordas que a uniam a ele. Ele que era gaivota em ilhas próximas, mas que nela era barco encalhado, tão feio e desbotado quanto a ilha que ela era.
Pudesse ela mudar o passado e alcançá-lo-ia com uma laçada da renda do coração, prendendo-o a ela. E, então não mais seria ilha, seria arquipélago de amor.
Todos os dias, antes do despertador tocar, abre ela os olhos e deseja mudar aquele passado. Porém é raro o dia em que pensa no presente, jamais no passado. Ao longe, naquele horizonte escuro, espera sempre o passado de volta. Não percebe ela que, por detrás daquele nevoeiro está de novo o sol.
Mas, por enquanto, e enquanto a tempestade dela não amaina, ela dorme de janela fechada e cabeça coberta, enquanto cruza os braços sob aquele peito de terra seca de infértil da ilha que é, e da cidade que o passado roubou.
E, assim será, até o dia em que ela largará as amarras, segurará forte aquele bilhete só de ida para o futuro, atirar um beijo de despedida, por cima do ombro, para o passado que tanto deseja, e partir. Sem medos, sem sombras – com peito aberto e pássaros de esperança nas mãos. Sem ele, e com ela – com aquele que ela deixou esquecida no passado e está pronta para regressar à vida que se vive e é vivida.
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