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E, depois, não tinha medo de nada.
- Lembra-te – dei por mim a dizer, em tom de suplica.
- Não sei se quero – disse ela ao sair do quarto.
Fungou e bateu com a porta. Saiu para a rua. Ouvi-lhe os passos nos degraus. Estava tanto frio lá fora….
Perdi-a outra vez. Dei por mim a pensar. Fiquei gelado, mesmo que não sentisse qualquer frio. Sentia falta dela. Já, agora, ali. Morto, em vida.
Sentia a falta dela. E ia ser sempre assim. Eu sem ela. Porque eu matara o nosso futuro quando o tentei conquistar.
Olhei em direção da porta. Havia um rasto de lágrimas dela no chão de madeira clara.
No dia em que deixou a caneta deslizar suavemente, sem pressas, pelo papel, voltou a casa.
- Não sejas hipócrita - disse-lhe ela, ríspida e rapidamente.
Ele, como se tivesse sido esbofeteado, olhou-a de alto abaixo, com fúria nos olhos, enquanto se endireitava no sofá.
Ela, hirta e de maxilar tenso, esforçava-se por se manter serena.
- Julgas que não sei que, durante todos estes anos, enquanto dormias comigo, pensavas nela?
Ele anuiu. Era incapaz de lhe mentir. Aliás, nunca fora bom de palavras. Nunca. Era bom nos números, graças a isso, depois de conseguir aquele emprego na banca, pode sempre dar-lhe a vida de princesa que ela sonhara.
- Tu sabes que nunca te menti, que nunca fui capaz de o fazer - a voz dele suava enferrujada, como se há muito tempo não a usasse; e não usava. - Mas, eu sempre soube não era eu o dono desse teu coração perdido. Então para quê lutar sabendo que perderia a luta?
Os olhos dela escureceram. A sua boca, cheia de veneno há uns segundos, estava agora cheia de mágoa. Mágoas de uma vida dançavam-lhe agora na língua.
- A nossa vida não foi uma merda assim tão grande, pois não? - deixou que a pose de senhora se lhe morresse na boca.
- Não me parece que tenhamos tido uma má vida. Fizemos crescer dois corações enevoados, isso nunca terá sido em vão - respondeu-lhe ele em tom brando. Sereno. Depois, como se aquela conversa não passasse de pura banalidade, desviou os olhos, de novo, para o jornal.
Suspiraram. Em conjunto.
Havia neles tantas formas de amor. E, todos os dias, vivam mais uma, aqui ou acolá. Eles não o sabiam. Há mais de cinquenta anos que assim era.
Todos os anos digo que não vou ver os Grammy, que acabam muito tarde, que tenho de dormir, e já é tão tarde, e, e, e.
Mas, todos os anos acabo por ver. Ponho uns palitos nos olhos, abro twitter, vou buscar um chá e vamos lá.
E, ontem fomos. E não podíamos ter ido melhor.
Como todos por aqui sabem sou uma apaixonada por música: de todos os géneros, de todas as influências. Acho, e sempre acharei, que a música une as pessoas, as faz felizes e é umas das muitas formas de difundir o amor, e é mesmo:
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