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Uma vez fui a uma reunião de condomínio com a minha mãe e este deve ter sido um dos piores erros da minha vida (da minha mãe também, uma vez que, depois deste episódio fatídico dos nossos dias, nunca mais lá pusemos o nosso pezinho).
As reuniões de condómino são mais ou menos como uma gala da casa dos segredos, mas, a acompanhar os piiiiis vem um Sr. Dr. Senhor-doutor.
AH! O que não gostam os vizinhos de se tratar por senhores doutores! Ou então “Eu sei, Sr Dr. Eu sei porque sou advogado” (o meu prédio tem mais advogados que um tribunal em hora de ponta!).
As pessoas gostam dos títulos. Gostam. Não se importam que os mandem abaixo de Braga, se no local lhes chamarem senhores doutores. A mesma coisa dos cognomes – coisa essa que não resolve vida nenhuma (se tínhamos aquelas dividas à empresa dos elevadores, com elas ficamos), acontece nas reuniões de pais na escola! Outro mimo! Se for então o aluno filho da senhora-professora-x! UI! As horas de conversa que isso não dá, quando só lá fomos para assinar o papel das notas de final de período!
Os doutores e engenheiros ainda movem mentalidades. Como se depois de um curso universitário, nos mudassem o nome. Vamos ao registo, canudo debaixo do braço, e mudamos o nome de Marina para Doutora. Pronto. Assunto resolvido.
Esta coisa dos títulos sempre de deu comichão. Acho que, quase sempre, a associei a coisas menos boas. Não me incomoda, nem me chateia que cada um seja distinguido pelo seu mérito académico, mas, com toda a sinceridade, pouco me importa se estou a atender um pedreiro ou um médico na caixa. Dou igual tratamento aos dois. Isso parece deixar muita gente de mau feitio – azar. Também nunca obriguei ninguém a tratar-me com Dr., pois não?
Um tratamento não muda quem somos, e o nosso propósito na vida ativa. Ou e melhor não devia mudar. É normal ouvirmos reclamações, seguidas de um “sou médico” ou o tal “eu sei porque sou advogado”. E, ainda me parece normal que ao referir destas frases as pessoas se encolham, baixem a cabeça e deixem passar.
Suponho que enquanto as mentalidades não mudarem, e, muitos dos senhores-doutores, acharem que merecem mais-valias, continuamos sem seguir para o caminho certo. Enquanto, não se servirem doses de humildade, largas doses, em muitas refeições, de muitas casas portuguesas, não conseguiremos andar para a frente. E, é pena…
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