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Morte e mediatismo nunca deviam ser conjugados na mesma frase (quanto mais na mesma realidade).
Há mais ou menos um ano escrevi aqui um texto em que, em linhas, gerais, dizia que estava sempre a faltar-me algo.
Não era uma sensação material: não me falta aquela camisola, aquele CD, aquele anel, aquele telemóvel- faltava-me sempre aquilo.
O pior, é que, mesmo com um ano decorrido, continua a faltar-me qualquer coisa.
Tenho um buraco no estômago, algo bem maior do que a gastrite, outro no coração, outro para além da saudade. Arde-me o cérebro, sinto-me zonza. Uma panóplia de sintomas sem fim e sem fim à vista.
Falta-me algo. Só não sei o quê. Nem sei onde procurar, nem como tapar os buracos neste corpo que sente falta de alguma coisa.
Sinto que estou presa não sei a quê, estou livre não sei para quê. Quero ir não sei para onde. E, falta-me sempre algo. Ou alguém. Ou alguma coisa... Sempre.
Meu coração é uma pedra, uma pedra pomes - furada e retorcida.
Mais furada que retorcida.
A minha mãe costuma usar a expressão “estou com uma camada de nervos” para definir aqueles momentos em que está tão nervosa e chateada que só lhe apetece apertar uns quantos pescoços. Sempre que penso nesta frase imagino-a de dentes cerrados e olhos fechados. Chateada. Muito chateada.
Ontem no trabalho tive tantos dramas (pessoal, e aqueles lengalenga de se ser melhor pessoa no ano novo?), que eu era nervos com uma camada de carne e humanidade – assim uma coisa tênue mergulhada num mar de dentes cerrados.
Ora bolas, 2014 ainda nem assentou os pés em terra e já deixa o povo mal humorado!
As palavras ardem e queimam-lhe a lingua. Quando as disse queimaram-no a ele.
Um dia, deram-lhe uma âncora, e ela, com medo de se perder pô-la no peito. Ancorou-se ao coração.
Mas, os corações, órgãos finos e frágeis, não são lugar para se prender algo tão duro e forte.
Todos os dias ela deixa um rasto de sangue e carne por onde passa. Pedaços dela, perdidos, dor lançada ao vento.
Todos os dias, presa nela, ela perde-se mais um bocadinho - dela, nela. Todos os dias ela deixa-se morrer. Todos os dias ela morre, aos olhos de quer a quer ver - morrer.
Pintou os olhos com aquela palete de sombras verde esperança.
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