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Sempre que vou a um hospital tenho uma vontade estúpida de fumar. Quero tabaco mal os meus pés pisam aquele solo, mal sinto o cheiro a éter e a sofrimento. Quero nada mais do que um cigarro aceso a perder-me entre os dedos. Eu nunca fumei. Nunca, nem quando era moda experimentar. Nunca quis, nunca me fez falta. Mas, mal entro num hospital quero matar o tempo. Esperar, esperar num hospital destrói-me por dentro. Quero matar o tempo com tabaco, na esperança que o fumo me desfaço o peso que automaticamente tenho no peito.
Não sou capaz de lidar com hospitais. Desde sempre que assim é. Lembro-me de ser pequena e ter de ir às urgências e de chorar. Estava doente e chorava por ter de ir ao hospital. Levava sempre uma boneca grande comigo, suficientemente grande para poder tapar a cara enquanto tivesse que circular pelos corredores. Tinha medo. Medo da doença, pena dos doentes; um mix de sentimentos que ainda hoje me tomam o corpo sempre que vou a um hospital.
Sinto-me sempre mais doente nos hospitais. Doente por mim e pelos outros que ali estão.
Não sei lidar com a doença. A doença dos outros maltrata-me mais do que a minha própria doença.
Nos últimos anos passei muitas horas em hospitais. E, a cada minuto sentia a esperança fugir-me por debaixo dos pés. E, ainda sinto. O aperto no peito, as dores de estômago, a pele arrepiada. Lutei contra esse medo, escrevi sobre ele, ainda penso muito nele, mas, nada se altera.
Não sei lidar com a doença. A doença dos outros maltrata-me mais do que a minha própria doença. Por isso tento ser outra pessoa, e matar o tempo, na esperança que ele me mate o medo e me faça forte.
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