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Tenho um pássaro entalado na garganta. Ali, preso.
Está vivo, bem o sento, mas não voa. Voou pouco.
Tenho um pássaro preso na garganta e ninguém o tira de lá - nem eu.
Um dia, cuspo-o, e deixo-o voar. Ou, então abro a boca e empurro-o. Ou falo. Falo e ele sai - por si.
Faz pausas. Nos tempos mudos. Nas paragens roucas. No fim anunciado dessa voz que não cala.
Um dia destes vi uma antiga entrevista da Kelly em que ela dizia que todos temos uma música, ou uma banda sonora, que sempre que ouvimos voltamos a casa. Independentemente do que estivermos a sentir, ou, onde estivermos há sempre uma música que nos leva para onde devemos e queremos estar.
Por vezes essa é uma música que nos faz chorar. Ou rir. Ou que nos faz arrepiar. Que nos dói e nos alimenta ao mesmo tempo. É uma sensação estranha, que nos faz sentir melhor e pior. Nus e vestidos, sós e totalmente acompanhados
Eu tenho mais do que uma. Todas da Patty Griffin. Acho que a vida fez com que assim fosse. A primeira vez que a ouvi mais a fundo foi na véspera da minha ida, pela primeira vez a Vila Real.
Sempre, nos mementos menos bons ouvi Patty Griffin. Sempre nos melhores momentos ouvi Patty Griffin. Ouvi Patty Griffin sempre que quis ir ou voltar a mim. Foi com estas músicas que regressei muitas vezes a casa.
Se fechar os olhos agora, e disser um dos seus magníficos poemas posso chorar horas, enquanto rio, e sinto a pele de galinha se espalhar por todo o meu corpo e sei que tudo está bem. Tudo.
Depois, quando os volto a abrir tudo pode continuar igual, mas, naquele minutos em que nada mais havia do que um poema, uma melodia e uma voz rouca e penetrante tudo estava onde devia estar.
Ainda hoje, aqui, agora, sentada nesta secretária, a escrever num computador que não é meu, choro e oiço Patty griffin. Não importa que me sentisse bem antes e que agora me doa a cabeça porque estive a chorar. Não me importa nada. Quando oiço Patty Griffin, chego a casa, descalço os sapatos e solto o cabelo. Baixo os braços. E não faz mal. Fecho os olhos e tudo fica bem. Mesmo que depois não esteja. Agora está. Depois, depois logo se vê.
Se às vezes se sente desesperar, fecha os olhos e conta até três.
Por norma o três não a acalma. Talvez de três em três. Ou de dez em dez. Até ao infinito positivo.
Às vezes conta para se esquecer. Ou a ver se perde nos números quando as letras e as palavras a fazem perder-se. Ou esquecer-se.
Por norma não se acalma. Mas, conta muito. Números. Páginas em falta. Coisas a fazer.
Por vezes quando se sente desesperar conta. Mas, não conta a ninguém. Acha ela que os seus números nada fazem falta a ninguém. São da sua conta, não da de mais ninguém.
Tem girassóis nos olhos e nuvens no regaço.
Ir votar e, enquanto esperava pela minha vez na fila, descobrir que tenho o cartão de cidadão caducado há quatro meses...
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