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Entrou e poisou a mala no chão. Largou os sapatos perto da porta, não se preocupando em arruma-los do caminho.
Sentou-se no sofá e tirou o casaco. Depois, despiu as palavras. Todas, aos montes, às frases e, por fim, uma a uma. Ervas e flores. Esvaziou os bolsos das calças tirando de lá aquelas silabas perdidas. Doridas, sem sentido. Aquelas lágrimas em forma de A ou de B.
A sala estava abafada. Calor de verão, em casa fechada. Não se importou. Estava fria, assim vazia das palavras, de letras tão só.
Nova Crónica!
Porque as pessoas que amamos nunca vão parar de morrer, e nós vamos morrer sempre um bocadinho quando isso acontecer.
Não me percebo e não me conheço. Escrevo para que um dia, alguém, quando me ler fazer aquilo que eu nunca consegui: conhecer-me e perceber-me.
Dividi-me em metades. E dessas metades fiz terços. Terços de mim. E rezei.
Cortei-me me pedaços na esperança de que assim, feitas muitas, vivesse melhor. Menos eu. Talvez. Sim, menos eu. Talvez...
Hoje voltei ao médico. O ouvido, o ouvido! Mais dois comprimidos. Só mais dois, também não faz mal!
Levanta a cabeça. Põem a tua mão no meu ombro. Anda. Vamos ver o mundo.
Calçou aqueles saltos altos. Os vermelhos. Os mais brilhantes.
Levava a vida presa naqueles saltos agulha. Quinze centímetros de fé.
Arrastou a vida nos pés. Com peso. Sem peso algum.
Doía-lhe o peito ao pensar em quantos mais passos teria ela de caminhar com aqueles sapatos altos até encontrar o caminho discreto em que os pudesse descalçar e sentir a terra nos calcanhares.
Calçou aqueles saltos atos. Os vermelhos. Os mais brilhantes.
Levou a esperança abraçada aos saltos agulha. Quinze centímetros de fé. E, esperou, esperançada.
Comprei um fato de banho (uma coisa linda de morrer!!!) e estou cheia de dores de ouvidos.
Proibiram-me de comer couves e comi caldo verde sem pensar duas vezes porque me esqueci que caldo verde leva couves.
Também não posso comer sardinhas, mas, porra, era S. João.
Não posso comer gelados, nem bolos, nem farturas. A minha mãe comprou bolas de berlim.
Não posso beber leite. E iogurtes de beber de soja, ninguém se lembra de inventar?
Hoje de manha, sentada à frente de um copo de leite de arroz, uma coisa asquerosa que bebo na falta de melhor, depois de me sentir miserável e cheia de dores em tudo o lado, fiz um discurso proactivo sobre a minha ganancia a couves, a bolas de berlim, sardinhas e outras coisas pecaminosas.
Do outro lado da mesa, a minha avó, chateada com a minha vida, diz-me "Filha, isto também não é vida. És tão nova e não poder comer.". E ela tem razão, não é.
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