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Sente o mar brotar-lhe dos olhos enquanto tenta evitar as nuvens da sua cabeça.
Gosto de pensar em mim como uma rapariga (mulher, ok) simples, equilibrada, simpática e justa. Mas, sem quaisquer pretensões, sei que não possuo qualquer um destes predicados. Sou confusa, complexa, bruta, nervosa, stressada.
Tenho uma noção bastante bem elaborada de quem sou. Do que gosto, ou não gosto, do que aceito, do que não aceito. Tenho um filtro grande que me livra de muito o que não aceito, tudo o suporto ou não suporto.
Sei que vou sair dali magoada, sei que vou fazer-me forte durante muito tempo, mas, também sei que um dia, algures no futuro, vou deixar a ferida sangrar para poder curar mais depressa. Nada de pensos ou curativos. Sei que comigo vai ser sempre a sangue frio. Sei que vou magoar as pessoas. Sei que elas também me vão magoar. Ou talvez as queria magoar depois de me magoarem. Sei as coisas certas, mas sei também que, às vezes, vou fazer as coisas erradas. Sei e aceito tudo isso. Parto do princípio que a vida é assim mesmo. Não me desculpo, mas aceito-me.
Mas, por muitos anos que passem nunca vou suportar que decidam a minha vida por mim. Não suporto sequer a ideia de tomarem decisões que só a mim dizem respeito.
Não aceito que digam onde vou, por onde vou. Aceito sugestões, saídas, listas de coisas que devo fazer. Mas, a última palavra é minha. Devo fazer, mas nem sempre faço. Quero ser eu a decidir. A decisão é minha. Tem de ser minha. É minha. Será sempre minha.
Sou compressiva e simpática e boa pessoa. Mas, também sei os caminhos reversos. Conheço a raiva e a arrogância. A mágoa. Vivo comigo mesma para saber os meus limites. Os bons e os maus.
O meu sonho acabar tarde. A alma fica desperta.
Ando a evitar uma série de pensamentos, de ideias, de dores minhas que não quero ter.
Ando a fingir que me esqueci. Ou que não me lembro de todo.
Ando a enganar-me.
Resta-me pouco tempo nesta fantasia mentirosa em que sou vitima e vilã. Restam-me semanas, dias, talvez para fingir que me esqueci de me lembrar que estas dores minhas estão em mim. Estou a um passo do abismo e ando a tentar esquecer-me de como devo caminhar em frente.
Ando a evitar uma série de pensamentos, de ideias, de dores minhas que não quero ter. E, ainda não sei o que fazer quando me acordar desta ilusão.
Sentir que somos emigrantes ilegais algures entre a França, uns Países Russos, Espanha, Brasil, Alemanha, Itáila ou Inglaterra.
Não quero que me toques. Não me doas mais. Porque me magoas com essas palavras simples, quando me pesas tanto aqui no peito?
Não me fales. Não me digas frases doces, que tão me amarga sabes. Quando me matas aos poucos quando me tentas viver.
Não.
Não.
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