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Gosto sempre de pensar que o ano atual é sempre o melhor, da mesma forma que gosto de pensar que a celebração deste ano é sempre melhor que a do ano passado e que a do próximo ano será melhor ainda.
Ontem foi um dia especial. Recebi girassóis – o que por si só faz o dia ser o melhor do ano -, recebi muitas roupas bonitas, e sapatos e pulseiras e malas e livros e anéis.
Fiz o melhor bolo de anos que algumas vez tive: dois andares de uma obra da pastelaria caseira (ok, podia estar mais direitinho, mas foi um sucesso em aspeto e sabor (sem lactose, claro)). O jantar estava maravilhoso, o ambiente também. A sobremesa estava nos ajustes e eu estive genuinamente feliz o tempo todo. Consegui deixar as preocupações de lado e comprei balões e um canhão de papelinhos, o que acabou por fazer a festa, mais festa ainda!
Rodei-me da família e da minha amiga mais verdadeira, mais duradora e que mais faz parte de mim, que também é, afinal de contas, família também.
Tenho que vos agradecer pelos desejos de feliz aniversário, especialmente à Carolina e à Vera, que me deixam sempre sem palavras por me conhecerem tão bem, por me quererem tanto bem.
Agora vamos lá agarrar os 23 e faze-los brilhar!
Quando escrevo sobre as coisas torno-as reais. Antes disso são só ideias a navegar num mar agitado, por entre outras ideias, todas elas perdidas, todas elas confusas.
Fiz muitas coisas por mim, e só por mim, neste último ano. Agora corro. Mesmo sem saber como, mesmo que chegue a casa com os pés cheios de bolhas. Se me dissessem há um ano que ia correr, por vontade própria, mesmo que fique estupidamente ofegante depois de dois minutos, eu não ia acreditar.
Neste meu ano preocupei-me muito. Ando sempre preocupada. Com os outros, com o emprego, ou pelo não o ter. Com a família, com os blocos de notas que ainda não fiz, com as coisas que quero fazer. A pressa, sempre a pressa, em dias de andam em câmara lenta e preto e branco.
Escrever aqui, continua a fazer tudo mais real, tudo a três dimensões. Faz-me racionalizar mais, sentir de forma diferente e exteriorizar. Canalizar. Derreter.
Quero terminar aqui os 22. Em palavras, com calma. Com música de fundo.
Vim cá deixar as preocupações. Amanhã, os 23 saberão lidar com elas, agora vou festejar, sim?
Ela era o início e o fim. E o meio. E tudo. E nada. Mesmo que ela não fosse de ninguém.
Era o passado e o presente, sem saber se seria o futuro.
Era buraco negro e estrela cadente. E céu. E mar. Ao mesmo tempo-
Era cavalo, selvagem, fuga, dor, grito, suor e beijo. Ela era tudo e o fim. E nada, o nada de ninguém.
O telefone acordou no seu bolso. O tilintar rabugento do som do toque de mensagem ressoou pela sala quase vazia. Ele suspirou. Precisava de móveis. De paciência e vontade para os comprar. Mas, mais urgente era trocar aquele estúpido toque do telemóvel.
Levou a mão ao bolso e pegou no leve e frio pedaço de metal.
Era ela.
Enquanto se preocupava em se manter impávido e sereno abriu a mensagem.
'Estás feliz?", podia ler-se no ecrã do telemóvel.
Sentiu-se agredido. Doí-lhe a face, no local exato onde sentira aquele estalo que não existiu.
Ela sabia. Claro que ela sabia. Ela sempre sabia. Sempre. E, ele não estava a ser propriamente cuidadoso e reservado. Ela sempre fora assim. Não ele.
- Sim - digitou - Ela é muito diferente de ti.
Não tencionava ser rude. Embora sentisse que o estava a ser. Só queria ser sincero. Era tarde demais para pensar. Já enviara a resposta.
Ela não esperava por uma resposta tão rápida. Ou talvez nem esperasse resposta, uma vez que não sabia bem o motivo para enviar aquela sms. Tinha eliminado o número dele do telemóvel para se impedir de o fazer. Mas, apaga-lo do telemóvel não fazia que já não o soubesse de cor.
Talvez só precisasse de saber. Saber dele por ele.
Leu a mensagem. Uma vez. Outra vez. Mais outra. Tinha frio.
Sentiu-se magoada com a resposta. Mas, poderia ele estar com alguém semelhante a ela? Era óbvio que tinha que ser diferente. Só esperava que o amassem na mesma quantidade, de forma diferente. Da forma certa. Não se importava de quem ele escolheria para o amar. Desde que fosse competente nessa tarefa.
Queria responder-lhe. Suspirou.
Poisou no telefone no chão a seu lado.
Deixou a resposta afundar-se no peito juntamente com o amor que ainda lhe tinha. Silêncio.
Silêncio. Ela não respondeu. Era melhor assim. Não era?
Este ano não posso comprar um bolo de aniversário na pastelaria do costume. Não posso ter aquele maravilhoso bolo com recheio de fruta e chantili. Não me posso dar ao luxo de comer uma fatiinha do melhor bolo de aniversário do país.
Assim sendo, tenho que ser eu a fazer um bolo, o que terá que ser uma mais para o modesto e para o vegan.
Posto isto, quero um naked cake de dois andares. Com muita fruta, sem natas, nem lactose, com coisas muito adaptadas (e inventadas, porque já andei a pesquisar e encontrei muito pouco que me satisfizesse).
Vou terminar os 22 em aventura culinária. Que bem que me parece.
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