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Não me queiras. Se me queres, vou ficar. Se ficar vais ser o culpado pelas minhas mágoas. Pelas minhas horas e dores. Pelas lágrimas que te vou esconder. Não me queiras. Não assim. Não que não me quero aqui.
Não me tomes. Não me tornes mais tuas. Se for tua, nunca vou partir. E, se ficar, perco-me antes de te perder.
Sabemos que a febre nos está mesmo a afetar quanto compramos um livro na wook só mesmo porque estão a oferecer uma lanterna.
(Não me julgem. Eu gosto mesmo de lanternas. E estou mesmo com febre.)
Nunca tive vontade de fazer exercício. Sempre tive uns quilitos a mais e sempre tive pouco jeito para ginasticar. Aliás, nunca gostei de fazer exercício.
Desde que, na primavera passada, decidi começar a fazer longas caminhadas beira-mar muito mudou. Não mudei só porque o meu estômago pedia. Acho que todo o meu corpo ansiava por uma mudança.
Há umas semanas, dei por mim a fazer pequenos períodos de corrida durante o longo percurso que gosto de fazer. Não sei correr. Mexo mal as mãos e os braços. Sinto o corpo balançar de formas tão pouco naturais em mim, perco o folego cedo demais. Mas, resisto. Tenho que correr até ao próximo poste de iluminação. Só até ao final da rua. Depois ando, passo apressado, até deixar de ofegar.
Mas, o meu corpo, toda a vida preguiçoso, sente vontade de se exercitar. Esqueço tudo, penso em tudo e isso faz-me correr mais depressa. O meu corpo, tão desajeitado quando corre, sente os músculos gritarem de dor e prazer quando os estico. Os pulmões ardem, e o nariz gela, enquanto o frio me rodeia.
Claro que ainda abrando para tirar uma fotografia aquela árvore-que-é-linda ou aquela flor-raios-que-cor-é-aquela. Ou ao céu. Sempre.
Quando corro sinto-me tão perto e tão longe de mim. Por estes dias, encontro-me por ali – a passo apressado, com o cabelo a bater-me na cara.
Livre. Tão eu, tão outra.
Deram-lhe asas. Asas de papel.
Às vezes sente a morte sentar-se-lhe no regaço. Ela, medrosa, sente-lhe o respirar putrificado no pescoço.
A morte às vezes beija-lhe os lábios gretados. Acaricia-lhe o rosto fechado. A morte dá-lhe a mão, tantas vezes.
A morte come com ela à mesa, vestida de anjo, em corpo de diabo.
A morte vive-lhe em casa, e com ela casou. Muitas vezes, a morte, diz que a ama, depois de a matar.
Desde que me lembro que tenho pavor a hospitais. Lembro-me de ser pequenina, ter torcido um braço (na minha infância torci os braços umas três vezes e os pés quatro) e agarrar-me ao meu pai, atrás dele e fechei os olhos com muita força porque não queria ver as urgências.
Chorava muito em hospitais. As pessoas doentes, velhinhas, em macas, sozinhas, a gritar, tudo isto me matava por dentro, me fazia mais doente ainda.
Com o passar do tempo, fui melhorando. Aos poucos. Muito lentamente.
Claro que nunca ponderei uma carreira em medicina. Nada, na área da saúde me despertava interesse.
Nos últimos anos passei muito tempo em hospitais. Dias inteiros, semanas seguidas. Fui obrigada a enfrentar este medo irracional.
Ontem, estive quase oito horas nas urgências. Eu no comando das coisas. Eu a ser a responsável. A reclamar, a batalhar por direitos tão nossos e tão esquecidos.
Ontem, no meio da crise, fui crescida, adulta e lúcida.
Cresci…
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