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Às vezes sente a morte sentar-se-lhe no regaço. Ela, medrosa, sente-lhe o respirar putrificado no pescoço.
A morte às vezes beija-lhe os lábios gretados. Acaricia-lhe o rosto fechado. A morte dá-lhe a mão, tantas vezes.
A morte come com ela à mesa, vestida de anjo, em corpo de diabo.
A morte vive-lhe em casa, e com ela casou. Muitas vezes, a morte, diz que a ama, depois de a matar.
Desde que me lembro que tenho pavor a hospitais. Lembro-me de ser pequenina, ter torcido um braço (na minha infância torci os braços umas três vezes e os pés quatro) e agarrar-me ao meu pai, atrás dele e fechei os olhos com muita força porque não queria ver as urgências.
Chorava muito em hospitais. As pessoas doentes, velhinhas, em macas, sozinhas, a gritar, tudo isto me matava por dentro, me fazia mais doente ainda.
Com o passar do tempo, fui melhorando. Aos poucos. Muito lentamente.
Claro que nunca ponderei uma carreira em medicina. Nada, na área da saúde me despertava interesse.
Nos últimos anos passei muito tempo em hospitais. Dias inteiros, semanas seguidas. Fui obrigada a enfrentar este medo irracional.
Ontem, estive quase oito horas nas urgências. Eu no comando das coisas. Eu a ser a responsável. A reclamar, a batalhar por direitos tão nossos e tão esquecidos.
Ontem, no meio da crise, fui crescida, adulta e lúcida.
Cresci…
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