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Sou um universo coberto de pele.
Choca-me o à-vontade com as mulheres se desrespeitam umas às outras.
Choca-me como aceitam a padronização do corpo feminino, choca-me a aceitação das injustiças, choca-me que achem piada ao facto de as roupas as mandarem lavar a roupa, choca-me que achem bem outras mulheres serem obrigadas a espremer os seios para provarem que estão a amamentar, choca-me que digam que há mulheres que mereceram ser violadas, choca-me que se riam quando ouvem piropos ordinários na rua, choca-me que se ataquem em vez de se deferem.
Choca-me que a sociedade ache que está tudo bem. Choca-me que pessoas digam que não são feministas. Que tipo de pessoa não acha essencial que as mulheres tenham iguais direitos perante os homens?
Choca-me que pessoas, com formação elevada, com um passaporte cheio de carimbos, que, supostamente, são cidadãos do mundo se insurgem com ideias tão século passado.
Sou mulher. Perdi peso. Ganhei peso. A adolescência não me brindou com maminhas, mas deu-me ancas. Nasci com mais de quatro quilos e tive quase sempre uns quilos a mais. Sempre fui saudável. Nunca precisei que me chamassem gorda. Também nunca esperei que me chamassem magra. Aliás, ainda hoje não percebo o que os outros têm a ver com o meu corpo. Nunca hei de perceber porque os outros têm que dar opinião sobre o tamanho que o meu corpo ocupa – não lhes roubo espaço. Nunca vou perceber que medidas me dita a sociedade.
Choca-me que ainda se acredite que só os magros são saudáveis. Há gente mais pesada que é mais saudável que os magros. E, não percebo uma sociedade que não se aceita com todos os tamanhos. É quase como negar uma cor ao arco iris.
Choca-me que toda a gente queira ser como toda agente. Chocam-me as ideias padronizadas. Chocam-me as pessoas quadradas que rotulam os outros.
A padronização rouba essência. Ninguém é só magro, ninguém é só gordo. Ninguém é só mulher. Ninguém é só homem. Todos temos histórias. Vontades. Ninguém é só uma coisa.
Acho - sempre achei - que o grande mal do mundo é o facto de toda agente achar que pode e deve opinião sobre tudo. Não tem. Não tenho que ter opinião sobre a vida dos outros, sobre as suas preferências sexuais, sobre o seu peso, sobre se anda ou não anda bem vestido.
Choca-me que ninguém se choque.
Vi anatomia desde o dia 1 (e já revi temporadas inteiras).
Não sei quantos oceanos mais terei de chorar só a ver uma série de TV (onde a personagem principal é tão maltratada)...
Muitas coisas aqui
Acho sempre que os meus anos de gloria são os três anos universitários. Os três melhores anos.
Claro que o meu cérebro fez o favor de apagar todos os momentos menos felizes- só guardo as coisas boas. As viagens atribuladas, o perder o autocarro todas as manhãs, as cristas de galo que comia antes de chegar a casa, os jantares tardios, os hambúrgueres da promoção, as pizzas do Big Bob, a (sempre) falta de dinheiro, o contar os trocos para o almoço, as marmitas, o parque corgo, os vídeos do Sei Lá, a irmã má e a irmã boa, os casamentos ilegais, as noites a cantar à luz da lanterna, não ter tv, nem internet, as bolas de Berlim da Tojeira as 3 da manhã, a Gomes, as idas ao cinema, o mercado, as caminhadas até à cantina. O calor dos dias que só matávamos em excussões às lojas de chineses com ar condicionado, as músicas de natal a entrarem pelo quarto cheio de posters. A residência, o amor e a amizade, o pior senhorio de sempre. As reportagens em todo o lado, todos os dias, o galinheiro das locuções, a rádio. As coisas difíceis. Os banhos em fontes públicas, as noites longas. A neve das manhãs. As aulas chatas. Os melhores trabalhos do mundo.
As minhas saudades chegam daqui a Vila Real. Vão chegar sempre- e sobrar, sobram sempre.
Queimei há três anos. A 25 de abril, há 3 anos, foi o meu cortejo académico. Posso ter feito sempre escolhas difíceis, mas porra, valeram sempre a pena.
Festejei a liberdade de viver um sonho a 25 de Abril, há alguma coisa que bata isso?
Ás vezes o coração também tem falta de ar.
Tenho a profunda convicção de que, sendo o mundo redondo, um dia, mais dia menos dia, vamos voltar ao ponto em que partimos.
Vamos voltar a cruzar-nos com quem amamos, vamos matar saudades e vamos rever rostos que nos desagradam.
Um dia, depois de darmos a volta ao mundo - ao nosso mundo, e quando pararmos de novo do local de onde partimos vamos cruzar-nos com quem nos matou antes de irmos.
O mundo gira. Nós seguimos em frente. Nunca ninguém fica na mó de cima para sempre, assim como ninguém fica na mó de baixo toda a vida.
Quando voltarmos ao ponto de partida, depois de partirmos e voltarmos, acertamos contas. As nossas.
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