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Nunca achei que o tempo curasse nada.
Nunca pedi ao tempo para me curar. Pedi ao tempo tempo. Sempre pedi tempo para ultrapassar. Nunca me quis curar, quis sempre seguir.
As cicatrizes são boas para nos lembrarmos que somos mais suficientes. Que somos sempre um copo cheio.
O tempo deu-me tempo. Tempo para me sarar. Para observar.
Para parar.
Às vezes sento-me dentro de mim, e tento organizar as caixas vazias ou meio cheias do meu coração.
Custa tanto deixar espaço vazio. Custa tanto como pensar que temos que abrir espaço para mais alguém.
Claro que podemos sempre expandir o coração, mas, é verdade também, que tal qual nem sempre temos dinheiro para aumentar a casa, nem sempre temos vontade de expandirmos as assoalhadas no nosso coração.
Gosto de pensar que deixo sempre o meu coração à solta. Livre para deixar entrar e sair que ama e quem magoa.
O meu coração é duro. Às vezes oiço-o pedir tempo. Pede-me tempo. Tento para estar vazio. Tempo para se voltar a encher. Tempo para deitar fora caixas que não lhe fazem falta. Tempo para lamber as feridas.
Hoje, enquanto caminhava à beira mal, debaixo de chuva, percebi que tenho dado tempo. A mim. Ao meu coração confuso. À minha cabeça cheia.
Neste tempo perdi pessoas. Pessoas que ainda me doem, mas, pessoas que já não me fazem falta. Pessoas que nunca deixarei de amar, outras que quero esquecer.
Tempo para organizar. Para criar outra voz. Para me escrever com ela.
O meu coração pediu-me tempo. Tempo para nós. Para mim.
Dei-lhe tempo.
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