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Não ter morrido no acidente foi sorte. Aliada á sorte, tive outra sorte: o facto de conduzir um carro de 1992. Osso duro de roer até para os railes de segurança.
Depois daquele dia, ficamos em dilema: arranjar ou não o carro. Precisava de peças – muitas. Precisava de uma frente nova. Precisávamos que alguém, com igual sorte à minha, que fosse mais desapegado e mandasse a sua viatura para a sucata para que pudéssemos salvar o nosso.
Esperamos. Comecei a conduzir outro carro. Sempre com peso. Sempre com remorso. Matas-te um e agora andas com outro como se nada fosse.
Sempre disse que queria o meu carro. Mas, sempre me afastei da decisão final: estava demasiado envolvida para ter uma opinião isenta.
O carro chegou quinta-feira.
Quando o vi, novo, brilhante, sem aquele ar desgraçado com que o vi pela última vez.
Hoje conduzi-o pela primeira vez. Primeiro muito devagar. Depois com a confiança de quem já partilhou muitos segredos estrada a fora, madrugada a dentro.
No rádio, quase sempre na Renascença, rezava-se a missa. Posso ter uma fé muito fraquinha, mas há momentos em que todo o universo conspira e congemina para momentos perfeitos. Já vivi uns quantos.
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