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Almofada de raiva, sob lençois de desgraça.
Ao longe chega a tempestade, vestida de pele, suor e sonho.
O circuito não para. Contranatura. Quando mais baixo, mais para cima. Renasce. Viva da morte anunciada. Forte da vida ceifada. Brilha de luz apagada.
Cai e não esmorece. Senhora dona de seu nariz e dessa vida moribunda que teima em vestir em tom de vestido de gala. Mulher de raiva. Menina de força. Criança de lagrima no olho, olho em frente.
Se me mantiver assim, dormente, pode ser que esqueça. Que perca os meus abecedários e as minhas lendas. Os meus e’s e ou’s.
Se dormir, assim, aninhada, no amago de mim nesse regaço desgraçado de letras por escrever, pode ser que apague tudo o que pensava querer e ser.
Se me desterrar nesta terra sem dono dorida de não ser, pode ser, que, assim sonolenta, me esqueça deste pesadelo e o confunda com um sonho de alguém. De qualquer um que não sou, mas posso comodamente ser, dormente, adormecida. Desletrada. Desgraçada.
Nunca pensei que as palavras fossem como dentes arrancados a sangue frio. Tripa esventada. Coração estrangulado.
Nunca pensei deixar de escrever. Nunca pensei que fosse doer tanto ter tudo para dizer e preferir ficar calada.
Nunca pensei chegar a meio da linha e sentir que a linha, tão torta como errada, era ponte de chegada, sem fim, sem pingo de luz e esperança.
Mais do que carne, água e ar sou sonho e letras. Mais do que mulher sou texto livre, corrido.
Nunca pensei que doesse tanto este luto. Este velório do que quero escrever e do que me doí escreve-lo. Do que quero e do que fujo.
Tentaram prende-la. Pôr-lhe um porto final. Depois paragrafo.
Mal sabem que, no contrapasso dessa mudança de linha, há sempre espaço para uma folgada de ar, nessas vírgulas que não deixam o texto parar.
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