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Chegaste fora de horas. Adiantado, presumo, como se fosse permitido vires sem avisar.
Não te perguntei as horas. Nem vi as minhas. Vamos fingir que não temos relógio.
Vamos fazer de conta que não temos que estar em algum lado daqui a uns minutos, que podemos ficar aqui e pôr o resto em pausa.
Ainda te lembras de que horas eram quando aqui chegamos?
Chegaste fora de horas. Atrasado, presumo, como se fosse permitido vires sem avisar.
Não me perguntaste as horas. Nem olhaste para o relógio da parede.
Olhas-me nos olhos. Ignoraste os ponteiros ritmados. E o tic tac do meu coração.
Sabes, não há tempo a perder. Já me perdi no tempo que ditaste quando me entraste pela porta adentro.
Perdi-te ontem. Perdi-te hoje de manhã e agora mesmo.
Percebi, agora, finalmente: perco-te a cada minuto em que não me dás a mão. E já são tantos, tantos os segundos em que te perco. E, em que não te quero perder mais.
As palavras saem me cansadas e doridas.
Como se, destreinada de as escrever, soassem mal saídas da minha boca.
Gretam-me os lábios e cortam -me a língua. Enrolam -se umas nas outras e, em frases longas e sem pontuação, magoam me sempre de dentro para fora. Castigam me por que sabem que, em mim, nasceram para serem escritas e não ditas. Eternas no papel e não finitas sacudidas pelo vento que nesta tarde de novembro me açoita a face.
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