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Imaginem que têm uma filha. Se a ideia não vos satisfizer pensem que são os irmãos mais velhos de uma rapariga teimosa, decidida e senhora do seu nariz.
Vejam-se a ter longas conversas com ela. Pensem no que diriam enquanto ela erra vezes e vezes sem conta, cometendo os mesmo que já cometeram e outros tantos que jamais imaginaram vê-la cometer.
Oiçam o que lhe diriam depois de terem ouvido falar mal dela na rua, depois dos boatos mais macabros chegarem aos vossos ouvidos. Lembrem-se de quando ela era pequena e lhe diziam para não pisar as poças causadas pela chuva na escola, sabendo à noite ela chegaria a casa encharcada. Naquele tempo, era impossível evitar que ela se molhasse – ela ia querer experimentar a sensação de saltar sobre a água, mesmo sabendo que era errado. E nós, à distância, nada podíamos fazer para o evitar. Claro que chegada a casa sempre lhe podíamos dar uma palmada. Mas, adiantaria? Não fizemos nós a mesma coisa naquela idade?
No entanto, agora crescida os erros não se converteriam em leves constipações infringidas na própria. A nossa irmãzinha magoava-se, magoava os outros e destruía tudo quanto lutara para construir. E nós, personificação da impotência nada poderíamos fazer a não ser assistir à sua queda em espiral.
Depois vêm as discussões – as que partilhamos e as que temos sozinhas, quais monólogos barulhentos.
Gritamos. Dizemos o que ela não quer ouvir porque as verdades doem. Deixamos de lhe falar. Queremos bater-lhe. Não a queremos apoiar – quem faz o que ela fez? Será que não pensa? O que lhe passou ela cabeça?
Mas, semanas volvidas, chega a sms e a vontade de perdoar.
Quem somos nós para julgar? Afinal, todos erramos. Devemos deixar de ser amados por isso?
Em silêncio, o perdão começa a nascer em nós. Começa com uma pequena semente no nosso coração, até, certa data, ser floresta.
Claro que o seu processo de crescimento é lento, doloroso e molhado. Nada é instantâneo – não o amor, não o perdão.
No fim de tudo, um dia, depois da mágoa amainar, a nossa irmãzinha voltará a dormir no nosso regaço, desta vez mais humana, mais forte e decerto mais consciente.
E entre um e outro suspiro do seu sono leve saberemos, ao afagar-lhe o cabelo, que a perdoamos e que o ressentimento morreu.
(Num sentido figurado, pode dizer-se que é isto que sinto em relação a ela...)
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