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Rimo-nos os dois.
O som acabou por ser abafado pela discussão de uma mãe com os filhos, no areal. Aparentemente as crianças não ficavam quietas, nem onde a mãe gostaria.
A brisa marítima arrepiava-me a pele.
- Não és muito boa a responder a mensagens, pois não...? - perguntou . Sorria. Mas, sabia a que se referia. Não havia ponta de humor na questão.
Dei um passo atrás.
- Acho que não... - respondi vagamente.
A discussão entre a mãe e os miúdos continuava, ligeiramente mais alta.
- Vou andando... - disse apontando para a rua.
Tinha que sair dali antes que disséssemos alguma coisa estúpida.
- Achas que alguma vez teríamos resultado?
Deu um passo na minha direção, voltando a encurtar a distância entre nós.
- Gui.... - murmurei, encolhendo os ombros, - Por favor...
Aproveitou um qualquer movimento involuntário da minha parte e agarrou-me o pulso. Não estava a fazer pressão nenhuma na minha pele. Mas, sentia que também não me ia largar facilmente se o tentasse sacudir.
- Responde - voltou a pedir.
Estávamos demasiado próximos. Sentia-lhe o hálito a menta, provavelmente proveniente de uma pastilha elástica. Desde de que deixara de fumar, andava sempre munido de pastilhas. Ou costumava ser assim. Que sabia eu...
Respirei fundo: maresia e menta.
- O que queres que te responda? - Guilherme olhava fixamente para mim. Queria evitar que me olhasse nos olhos. A mão quente não se movia do meu pulso. - Não sei...
- Al... - olhou o mar.
- Não sei. Estivemos sempre em tempos muito diferentes - soei mais irritada do que gostaria. - Quando tu estavas pronto eu não estava. E, quando eu estava pronta para uma relação já não havia sequer essa dúvida... Por isso, não sei.
Guilherme continuava a olhar o mar.
- Eu tinha que me resolver antes de pensar sequer em estar com alguém, Gui. Naquela altura era impossível. - disse mais baixo.
Olhou para mim. Estava muito sério.
- Mas, que importa isso agora? - tentei sorrir. -Estás quase casado e feliz.
Não respondeu. Não me olhou nos olhos. O meu riso morreu-me nos lábios.
- Deixa-me ir embora - pedi clara e calmamente.
Sacudi o pulso que ele segurava, largou-o sem residência.
Não adiantava procurar mais fantasmas à beira mar...
Largou-me .
- Adeus, Guilherme - disse dando largos passos em direção à rua.
Não esperei pela resposta, nem olhei para trás.
Há conversas que mudam o rumo do futuro. Aquela não era, de todo, uma delas.
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