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O problema não é o final. Foi eu achar que estava a viver o início.
Um pingo do teu autocontrole.
Por um pingo da minha tempestade.
Hoje pintei os olhos de verde.
Precisarei de ver mais esperança.
Não me faças querer menos e achar que sou demais.
Não me digas que sou de extremos, se nunca me viste o início e os fins.
Não me faças duvidar das certezas, tão poucas e tão ténues, que tenho vindo a colecionar.
Não me queiras com medo de sentir. De abrir a caixa de Pandora. De querer a lua e achar o céu perto demais.
Não me queiras pequena, porque não quero recear da grandeza.
Não me queiras, se me temes ter por inteiro.
Tenho medo de te escrever. De te rodear de letras e pontuações. De rimas mais ou menos imperfeitas.
Tenho medo de te dar nome, cor e forma.
Se te mantiver no escuro, longe de abecedários, não há significado que te possa atribuir.
Se te escrevo. Sinto-te. Faço de ti dicionário de palavras que, sem ti, ainda não descobri o significado.
Chegaste fora de horas. Adiantado, presumo, como se fosse permitido vires sem avisar.
Não te perguntei as horas. Nem vi as minhas. Vamos fingir que não temos relógio.
Vamos fazer de conta que não temos que estar em algum lado daqui a uns minutos, que podemos ficar aqui e pôr o resto em pausa.
Ainda te lembras de que horas eram quando aqui chegamos?
Chegaste fora de horas. Atrasado, presumo, como se fosse permitido vires sem avisar.
Não me perguntaste as horas. Nem olhaste para o relógio da parede.
Olhas-me nos olhos. Ignoraste os ponteiros ritmados. E o tic tac do meu coração.
Sabes, não há tempo a perder. Já me perdi no tempo que ditaste quando me entraste pela porta adentro.
Perdi-te ontem. Perdi-te hoje de manhã e agora mesmo.
Percebi, agora, finalmente: perco-te a cada minuto em que não me dás a mão. E já são tantos, tantos os segundos em que te perco. E, em que não te quero perder mais.
As palavras saem me cansadas e doridas.
Como se, destreinada de as escrever, soassem mal saídas da minha boca.
Gretam-me os lábios e cortam -me a língua. Enrolam -se umas nas outras e, em frases longas e sem pontuação, magoam me sempre de dentro para fora. Castigam me por que sabem que, em mim, nasceram para serem escritas e não ditas. Eternas no papel e não finitas sacudidas pelo vento que nesta tarde de novembro me açoita a face.
Gostas de ver o fogo a arder. Chamas altas. Pavio curto.
A vela nunca se apaga, mas carregas os bolsos cheios de cinzas.
As sardas desenham constelações nas tuas bochechas. Universos inteiros
de estrelas cadentes dançam , na tua cara quando te ris à gargalhada.
E, eu, comum mundano, vivo impaciente, enquanto, de mãos trémulas, tento alcançar a via láctea que te rola dos olhos sempre que choras quase sem te dares conta, nestas noites de fevereiro.
O tempo arrefece. As supernovas explodem. Novos planetas dançam com os anéis dos teus dedos.
E eu estou a anos luz de te apanhar, noite estrelada.
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