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Ás vezes ela finge que ele é omnipresente.
Imagina que ele vê. Que observa, lá de cima, a sombra que as suas pestanas projetam sob o rosto suave.
Imagina que ele sorri quando ela eleva as bochechas e ri para o mundo.
Gosta de pensar que ele vê nela uma paz que ela própria desconhece. Uma leveza que não tem, uma beleza que não possui.
Sim. Ela gosta de imagina-lo. Ao de longe. A vê-la, sem os olhos, com a alma.
Ela gosta de unir as pálpebras e sentir o sol aquece-la. Depois, quase sem querer deixar ciar uma mexa de cabelo sob a face, enquanto ele a observa…
E é assim que ela gosta de pensar nele: ausente como um fantasma. Sempre presente, mas nunca lá.
Um dia quis imaginar que era capaz de transformar um campo minado em solo fértil.
Um dia sonhei que era possível cultivar-te do amor meu. Um dia acreditei que era verdade e que eu bastava.
Um dia achei que faríamos a diferença. Que juntos seriamos imparáveis.
Num dia como em qualquer outro, simplesmente, enganei-me.
Há amores loucos.
Magoados, cansados, amachocados e fechados. Amaldiçoados.
Há amores loucos.
Perdidos, esquecidos , feridos e merecidos. Parecidos.
Há amores loucos.
Apaixonados, sofocados, frescos, tocantes. Amores apaixonados. Amores que amam, amores amados.
E há amores mortos. Acabados, não começados, como o nosso.
"Cedo o meu lugar a quem te mereça
Que decore os teus planos e que não se esqueça
Cedo o meu lugar a quem te mereça
Que te dê tudo e que nem pareça
Cedo o meu lugar a quem te mereça
Que fique do teu lado e que não esmoreça
Cedo o meu lugar…
Mas a seguir peço para voltar
Para mim nunca foi um jogo
Foi apenas um retrato
Onde ficávamos bem os dois
Onde as dúvidas são p'ra depois
Gosto mesmo de ti
Mas tu nunca estás...
Nunca estás aqui
Por isso…
Cedo o meu lugar a quem te mereça"
A Guerra acabou. As armas foram poisadas em solo minado e os soldados bateram retirada. A nossa guerra teve o tão desejado fim. Ambos desistimos - éramos demasiado fortes para sermos derrotados um pelo outro.
As nossas forças, anteriormente equilibradas e indestrutíveis, renderam-se à vista de todos.
Eu, fiz o meu luto pelos mortos, curei os feridos e chorei por tudo o que perdi. Depois, parti sem olhar para trás.
Tu, foste ficando, pisando o solo minado e fazendo sinais de fumo para onde eu os pudesse ver. A guerra acabou e eu parti. Tu arranjaste novos aliados e uma nova vida sob as cinzas antigas.
Se tudo acabou e ambos estamos desarmados, então porque não me deixas simplesmente seguir o meu caminho sem a tua sombra?
Nos teus lábios o meu nome repousou. Lá, nesse espaço vermelho cor de sangue as tuas palavras para mim foram gastas e finaram.
Com os teus lábios de predador feriste a tua presa. Cortaste-a em pedaços e sorriste, deixando-me perdida. Sem socorro.
Nesses lábios onde os meus olhos se perderam nada mais pude obter do que palavras vazias e promessas vãs…
Nesses lábios onde nunca estive, esses que nunca me tocaram, reina a mentira, e eu, eu sempre fui verdade.
Morreste-me de madrugada, nos braços da saudade.
Ficaste-me a caminho do coração, perdido, onde apenas restavam pedaços dilacerados do que eu já tinha sido.
Morreste-me porque à minha alma já não chegavas, nunca lá chegas-te. Nunca soubeste.
Morreste-me porque me tentaste matar de ti. Intoxicaste-me da tua ausência, presente na minha mente a cada tentativa de te perder na memória.
E ainda assim, morto, sinto-te vivo num outro coração, numa outra mão, num outro corpo, numa outra terra, numa outra vida que não a minha. Que não a nossa.
"Me dói ter passado tanto tempo atenta a ele — quando ele nunca ficou atento a mim.
E eu passei tanta coisa dura."
Caio Fernando Abreu
Em mim morres a cada dia, a cada segundo, em todo o momento.
Em mim definhas a cada hora, a cada vida em que não nos encontramos.
De ti parti a cada dia que não me sentiste e me deixaste.
Em mim continuarás a morrer em cada sol-posto, a cada sol nascido, em cada manhã de chuva e noite de temporal.
Em mim morrerás, porque o meu amor por ti há muito também morreu.
Em mim morreste.
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