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O mês passado escrevi dois textos para um concurso. Dois temas pesados. Dois textos que queria escrever, mas não sabia se conseguia espremer-me de forma a torna-los o que desejava.
Agora estou a escrever algo de maior extensão.
Decidi perder o medo e parar de me esconder atrás de romances fantásticos (que um dia vou acabar!).
Decidi procurar que dizer no mundo real. Sobre pessoas reais, com problemas reais.
Tenho dormido pouco, e adormecido a altas horas da madrugada. Ontem, enquanto ouvia a tempestade lá fora resolvi fazer uma playlist adequada a uma cena difícil que me estava em mãos (porque sou uma estúpida.).
Chorei e escrevi até depois das 3h....
Tenho vinte dias para escrever. Para escrever sem parar. Vamos ver se é desta...
(hoje recebi este postal... é isto)
Tenho medo de estar sozinha. Assim como tenho medo de aranhas - disse. - Acho que nunca fui muito boa a separar as coisas por tipo ou importância...
Soa a lamento. Nela muita coisa soa a lamento.
Queria beija-la. Beijar a ruga de preocupação que lhe surgia tantas vezes entre as sobrancelhas.
Queria levar-lhe os fantasmas. Queria que ela se visse com os olhos dele. Queria-a mais dele. Menos dela.
Fui ver Insurgente.
São livros assim que me fazem amar a escrita. Amar os sentimentos que a escrita me transmite.
Por muitos livros que leia, a Tris será sempre das minhas heroínas favoritas.
Por ser verdadeira. Por ser fraca e tão forte. E por, às vezes eu me sentir assim: tão fraca quando quero ser forte.
Depois, se há coisa nesta vida que me lava a alma é aquela sensação de união e liberdade que sentimos em alguns filmes. Este é um deles.
Faz-me confusão que um livro a que chamam porn-para-mães tenha uma adaptação cinematográfica onde só se veem mulheres nuas e não homens.
E, faz-me ainda mais confusão que todas as mulheres gostem de um livro onde as mulheres são tratadas como objetos, se sujeitam a violência doméstica consentida e vivem presas a relações abusivas.
(Ok. Não li o livro na íntegra. Li partes, em pdf, e desisti sempre. Não consigo ler nada onde a mulher é mal tratada. Mesmo que ela goste. Mesmo que tudo isto faça parte do sadomasoquismo. Compreendo o sucesso, percebo o porquê de se gostar, mas, não é para mim. Um dia, vejo o filme, em casa, com um olho aberto, e um fechado).
Sabemos que a febre nos está mesmo a afetar quanto compramos um livro na wook só mesmo porque estão a oferecer uma lanterna.
(Não me julgem. Eu gosto mesmo de lanternas. E estou mesmo com febre.)
Gosto de livros do fantástico. Trilogias futuristas e quase sempre irreais.
Gosto de livros de adolescente. De livros cheios de mensagens camufladas por ideias fantasiosas.
Claro que gosto de romances e livros de viagens. São lituras leves e apetecíveis. Mas, se me der a escolher, vou sempre chegar a casa com um livro de fantasia.
Na era atual, na conjetura atual, fazem cada vez mais sentido livros do género. Obras que podem pecar nas letras, mas, nunca falham a mensagem.
Os jogos da fome é assim. Revolta. Necessidade de mais e melhor. Governos correptos, povos pobres e famintos. Cada vez é mais assim, mais do mesmo. Começamos a ver, aos poucos, vozes maia altas. Aqui. Ali. Além. Ainda longe. Espero o dia em que, juntos, vamos fazer a diferença.
Todos temos o mimo-gaio dentro de nós. Só temos que cantar e deixa-lo fazer eco.
Comprei o Morreste-me porque queria saber se minha dor era igual á dos outros. Queria saber se podia quantificar a dor dos outros e saber se pesa tanto como a minha. Achei que ler sobre a dor alheia seria o necessário para descortinar a mina, um bocadinho.
Escrevo-vos com a t-shirt completamente encharcada pelas muitas lágrimas que me caíram face abaixo. Doem-me os olhos e cabeça. Neste momento dou graças por este ser um livro pequeno em letras (tão grande em significado…).
Chorei desde a primeira até à última página. Doeu. Não só pelas palavras, pelas recordações.
Quando nos morre alguém há sempre o último, mesmo que não lhe tivéssemos dado importância quando ocorreu. Houve sempre o último beijo, a palavra, o sorriso. E, depois houve sempre o nosso último. A última vez que dissemos o que queríamos dizer…
A pele fria. O girassol murcho. O adeus. A terra. E o inverno imenso que se nos instala em nós. O mundo sem. O céu que finge ser o mesmo. O mundo que dizem ser o mesmo, mas que não é porque uma grande parte dele como conhecemos desaparece.
Fiquei sem saber se a dor que sinto é do tamanho normal. Igual á dos outros. Ou se é só minha, tanto minha… Mas, também não importa, vou carrega-la sempre. E chorar. E nunca esquecer. E, isso, vamos todos, independentemente do tamanho da nossa dor.
No final do diário encontrei um par de páginas em branco.
Procurei uma caneta na mala que tinha a meus pés. Sem sucesso, despejei todo o seu conteúdo, sem cerimónias, pelo chão. Vasculhei pelo monte de tralhas e peguei na caneta e nos cigarros.
Tentei não pensar antes de prender o cigarro entre os dentes. Não procurei o isqueiro, por enquanto não precisava de o acender.
Fumar podia ser o expoente máximo de quem espera, mas, sabia que, mal acendesse o cigarro perceberia que a minha espera era demasiado grande para morrer ás mãos do tabaco.
Segurei a caneta entre os dedos. Era pesada. Estranha, ali a pender-me da mão. Fi-la pairar sibe o papel branco.
Suspirei.
Deixei a caneta deslizar. Raiva. Não letras. Rabiscos. Rabiscos fundos e duros como a espera.
Ontem acabei o "Still Alice". Muito tempo depois de o ter começado. Sabia perfeitamente, mesmo antes de ter tomado a decisão de o comprar, que lê-lo seria uma viagem. Que me ia arrepender. Que ia mergulhar em águas turvas, em camadas da mente que tento deixar submersas.
Sabia isto tudo e comprei-o à mesma.
Tenho achado ultimamente que tenho de colher muitas das minhas ervas daninhas para deixar as minhas flores crescerem devidamente. Afastar fantasmas. Deixar-me mais leve. Mais concentrada. Mais feliz. Melhor.
Ao ler, em algumas noites, fechei o livro cedo demais. Não me lembro de chorar. O reconhecimento deixa-me consciente, não me magoa mais do que já magoava.
Vi-me nas páginas do livro. Vi-nos a nós. Senti a mesma ânsia de sempre, o mesmo medo – o meu, o das personagens.
A doença de Alzheimer não tem cura. Nem pena. A doença de Alzheimer não tem piedade. É ladra. Destrói e leva para longe as pessoas que amamos. Fá-los perderem-se deles, de si mesmo, e faz-nos perde-los.
Mas, a doença de Alzheimer não leva o amor – o nosso e o deles, aumenta-o. Foi a doença de Alzheimer que me ensinou isto. Nunca o vou esquecer.
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