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Existem várias maneiras de um amor acabar. E desenganava-se quem pensa, que ele termina com a distância.
Ela - a distância, apenas atiça mais a fogueira, inflama-a, transforma uma pequena chama em fogueira, e a fogueira em incêndio.
Consome-nos, assombra-nos os sonhos, faz arder a nossa sanidade, e queima a nossa dignidade.
Mas, este amor destrutivo, que mata enquanto vive, acaba por transformar-se apenas em cinzas. Não tem mais por onde arder, e o fogo, inevitavelmente, apaga. Então, o nosso corpo, em ferida aberta, é raiva, é ódio, ressentimente e todo o tipo sentimentos destrutivos. É bomba pronta a rebentar.
Queima, arde e inflama. Magoa, e é veneno. Até ao dia que não é nada. Simplesmente nada.
Há uma fenda na parede da lavandaria. Não sei como lá foi parar, se foi alguém que lhe causou tal dano, ou se o azulejo sempre foi assim - rachado.
Nem sei como fui repara nela, ou porque motivo, a sua forma magoada, me perturbou.
Sei, que na altura que o vi, apenas procurei um pormenor que me abstraísse do que se passava à minha volta, algo que me ajudasse a bloquear a realidade que teimava em entrar-me pelo corpo. E o azulejo foi o escape perferito.
Sei também que senti em relação ao azulejo o mesmo que senti e relação à realidade – o sentimento de impotência. Não posso fazer nada quanto à fenda, e nada posso fazer em relação à realidade em que estou inserida.
É a vida…
Queria voltar a ser criança. Voltar a pensar, a sentir tudo como na infância.
Queria aquela leveza e alegria. Queria de volta aquela visão simplificada do mundo.
Queria que, quando me perguntassem se estava bem eu apenas pudesse responder: “Sabes quando caí no passeio e fiz aquela ferida no joelho, que me doía muito? Agora é igual. Sinto a mesma coisa. Mas é no peito. Mãe, acho que me dói o coração…”
E quando me perguntasse há quanto tempo sentia esta dor, simplesmente responderia “ Não sei. Mas o meu cabelo cresceu muito desde essa altura”.
E assim, tudo seria mais fácil…
(Sim, esta sou eu e a minha fiel amiga, a Ursite)
Talvez um dia me canse de construir castelos no ar.
Talvez, um dia, perceba que não vale a pena lutar contra monstros que jamais mudarão.
Talvez devesse resignar-me, calar e consentir como as outras marionetas. Por ventura, um dia serei capaz de o fazer.
Porque não, um dia, ter a sabedoria de desistir, viver a minha vida, sem pensar nos outros, principalmente nos que nos matam aos poucos?
Talvez um dia seja capaz.
Mas, não hoje… nem amanhã… nem depois…
Apenas um dia… num futuro bem distante...
Dizem que lidar com a dor dos outros é nem mais fácil do que encarar a nossa.
Os fantasmas são deles e as feridas não nos pertencem.
Dizem também que é mais fácil lidar com os nossos problemas quando estes são falhas anunciadas.
Todos sabem que vamos falhar, nós próprios estamos ciente de que é tiro no pé. Mas, vamos em frente, e voltamos feridos.
“Há sempre uma próxima!” “ Oh! Errar é humano.”
Mas, será mesmo isto que precisamos de ouvir? Será que a compreensão dos outros é que queremos? Talvez não seja.
Talvez precisássemos de um grito. Um abanão. Algo que nos fizesse reagir. Chorar. Sucumbir deste mundo durante uns segundos. Fechar os olhos, deixar a dor espalhar-se pelo corpo como veneno.
Acima de tudo, teriamos necessidade de lidar com este sofrimento de modo diferente. Como algo intrínseco. Algo que é só nosso,.
E, assim, é chegado o dia das nossas lágrimas ganharem alguma importância na nossa vida, e de os nossos ouvidos não ouvirem mais nada mais para além do que os nossos soluços.
É o dia que os outros terão de esperar. Um dia nosso...
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