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O peso do peso

por Marina Ricardo, em 06.08.15

Leio uma quantidade considerável de blogs da moda. Alguns nem sequer leio por querer ler, mas há em mim uma curiosidade quase analítica (e jornalística) que me tenta a lê-los.

Como qualquer blog da moda que se prese, todos correm, todos são atletas, todos falam maravilhas do material de desporto que lhes oferecem, todos correm as maratonas que eu nem sonho correr. Todos emagrecem.

Poucos falam das dificuldades reais destes processos de “mudar de vida”.

Não sei como se explica. Mas, sinto falta do relato de pessoas normais. Daquelas que não têm dinheiro para um PT ou para um ginásio (eu não tenho dinheiro para um ginásio, por exemplo). Daquelas a quem não lhe oferecem coisas. Daquelas que pagam as suas sapatilhas e leggins.

E, sinto falta que me digam como funciona esta coisa de perder peso na balança e nos olhos.

Queria um relato sincero. Sem filtros do instagram. Sem cunhas da NIKE ou de um ginásio.

Sinto-me muitas vezes defraudada. Tudo parece automático nos outros. Tudo é tão diferente na (minha) realidade.

Todos querem ficar bons para o verão, todos perdem quilos e mais quilos, e têm barrigas como as dos filmes e fazem férias onde há PT’s à mesma.

No meu nundo perder peso custa mais. Faço-o mais sozinha. Sem patrocínios. E com muito pouco dinheiro.

E, depois nunca ninguém fala das diferentes etapas do perder peso. Ou seja: eu perdi peso na balança. Mas, aos meus olhos nem peso o mesmo que a balança marca.

Nunca ninguém fala nisto. Todos emagrecem e ficam giros. Eu emagreço e dei por mim mais insegura, a sentir-me mais culpada.

Já aqui disse várias vezes que perdi peso porque o meu estomago me obrigou. Ou mudava ou ele dava-me cabo da vida.

Mudei. Comecei a fechar a boca a muitas coisas que gostava. Aprendi a dizer não. Não, não quero. Não, não posso sequer comer isso.

Depois comecei a fazer desporto. Daquele gratuito. A caminhar quilómetros e mais quilómetros. A saltar a corda quando dá vontade. A correr uns bocadinhos e a quase cuspir os pulmões (nunca me ensinaram a correr devagar. Logo corro dois metros muito depressa e não consigo fazer mais nada desta minha vida de ser corredora).

Perdi mais de dez quilos. Baixei dois números nas calças. As t-shirts também são mais pequenas (e os soutiens também – que raio, porque será que ninguém diz que quando perdemos peso, perdemos maminhas?!?!).

Não dei por perder peso. Perdi. Fui perdendo.

As calças iam sendo apertadas, e iam precisando de ser apertadas outra vez. Deixaram e ser skinny jeans a skin porque o resto das letras perdeu-se entre uma apertadela e outra.

Comecei a sentir-me culpada sempre que comia alguma coisa que não devia. Ou quando não saia para fazer exercício.

Um dia destes tiraram-me uma foto e não me reconheci. Sou mais pequena do que o espelho me mostra.

Sou mais pequena do que imaginava ser.

O fim de semana passada comprei um vestido S. Que me lembre nunca comprei nada S. ontem a minha irmã disse-me que não tenho a pernas gordas que penso ter, nem tenho nenhum pneu grande na barriga.

Acredito que sim. Mas, há dias em que vejo isso tudo. E mais. Outros em que vejo as coisas melhores, mais fininhas.

Tudo isto pra vos dizer que o que leem por redes sociais afora nem sempre espelha a realidade. Os bloggers têm muitas vezes contratos a cumprir, marcar a divulgar e, os seus percursos não são totalmente reais.

Não perdemos peso e ficamos como manequins. Ficamos com estrias. E com celulite. E é normal. São marcas do que fizemos o nosso corpo passar, do que passamos com ele.

Perdi dez quilos e fiquei com dez vezes mais estrias.

E, estas coisas não vão lá com os cremes que os famosos divulgam – vão só sitio com tratamentos estéticos que eles fazem em segredo (e com um patrocino).

Perder peso custa. Deixar de comer porcarias também. Não basta deixa-las hoje, ou amanhã. É deixa-las mesmo. E, só as vermos quando rei faz anos. Mas, ficamos melhor. Com o tempo. Mas, ficamos.

publicado às 00:37


2 comentários

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De ✓MS a 06.08.2015 às 13:04

Ai, como te entendo!
Tão verdade o que escreveste... nem sempre é um mar de rosas.
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De Carolinaa a 13.08.2015 às 22:52

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