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O mês passado escrevi dois textos para um concurso. Dois temas pesados. Dois textos que queria escrever, mas não sabia se conseguia espremer-me de forma a torna-los o que desejava.
Agora estou a escrever algo de maior extensão.
Decidi perder o medo e parar de me esconder atrás de romances fantásticos (que um dia vou acabar!).
Decidi procurar que dizer no mundo real. Sobre pessoas reais, com problemas reais.
Tenho dormido pouco, e adormecido a altas horas da madrugada. Ontem, enquanto ouvia a tempestade lá fora resolvi fazer uma playlist adequada a uma cena difícil que me estava em mãos (porque sou uma estúpida.).
Chorei e escrevi até depois das 3h....
Tenho vinte dias para escrever. Para escrever sem parar. Vamos ver se é desta...
(hoje recebi este postal... é isto)
Um dia destes perguntaram-me o que gostaria de fazer um dia, assim a coisa mais maluca e mais instantânea que me ocorresse.
Respondi que queria escrever um discurso feminista. Um texto que potencialmente mudasse alguma coisa.
Hoje, acabei de escrever o meu discurso feminista.
Ele espera que ela se esqueça dos medos e volte para casa.
Ela é uma ilha. Um punhado de terra vazia e selvagem rodeada de mar frio e revolto. Mar esse que ela evita e sacode dessas terras assombradas.
Ela é uma ilha. Só, na escuridão do oceano, em inverno permanente.
Largada nesse mundo redondo, esquivo e demasiado grande, ela ficou à deriva quando recusou o passaporte para o futuro, tentando retornar para esse passado em que fora cidade movimentada.
Queria ela voltar àqueles dias de sol alegre em que ela, assim sem querer, pintara o quadro difuso, confuso e negro em que agora vivia. Àqueles dias, em que em que com um desespero vindo de nenhures, cortou as cordas que a uniam a ele. Ele que era gaivota em ilhas próximas, mas que nela era barco encalhado, tão feio e desbotado quanto a ilha que ela era.
Pudesse ela mudar o passado e alcançá-lo-ia com uma laçada da renda do coração, prendendo-o a ela. E, então não mais seria ilha, seria arquipélago de amor.
Todos os dias, antes do despertador tocar, abre ela os olhos e deseja mudar aquele passado. Porém é raro o dia em que pensa no presente, jamais no passado. Ao longe, naquele horizonte escuro, espera sempre o passado de volta. Não percebe ela que, por detrás daquele nevoeiro está de novo o sol.
Mas, por enquanto, e enquanto a tempestade dela não amaina, ela dorme de janela fechada e cabeça coberta, enquanto cruza os braços sob aquele peito de terra seca de infértil da ilha que é, e da cidade que o passado roubou.
E, assim será, até o dia em que ela largará as amarras, segurará forte aquele bilhete só de ida para o futuro, atirar um beijo de despedida, por cima do ombro, para o passado que tanto deseja, e partir. Sem medos, sem sombras – com peito aberto e pássaros de esperança nas mãos. Sem ele, e com ela – com aquele que ela deixou esquecida no passado e está pronta para regressar à vida que se vive e é vivida.
O tempo não perdoa.
Este ano, não foi o meu ano...
MAS, um dia, as minhas Lembranças estarão em cima das vossas mezinhas de cabeceira...
O mais provável é que não consiga acabá-lo a tempo do concurso, mas só para que conste, por enquanto chama-se:
"- Suponho que não devias fumar – disse-lhe.
Sabia, e por convivência com médicos, e por alguma consciência que me restava, que fumar não era saudável.
- E supões bem – respondeu, soltando o fumo por entre os lábios.
- Então, porque fumas? – perguntei confusa.
- Sinceramente? – perguntou sorrindo. – Nem eu sei.
- Mas, se não tens razão para continuar, porque não páras – disse, não fazendo a mínima ideia do que estava a falar.
- Também não tenho razão para parar, pelos menos por agora. Não me sinto mal por faze-lo… - disse com mais uma tragada. – Além do mais, fumar é o expoente máximo de quem espera… todos os que esperam na vida, mais cedo ou mais tarde, fumam, Vendaval.
Abri a boca para ripostar, para contra-argumentar o que ele acabara de afirmar, mas, antes de proferir palavra, parei.
Naquele momento percebi que eu e aquele vício de tabaco não éramos assim tão diferentes.
Ambos não tínhamos razão para continuar, mas não era por isso que iríamos parar. Além dos mais, éramos os dois pacientes e sabíamos como esperar…
Nuno acabou o seu cigarro rapidamente e eu permaneci calada observando a beata entrar e sair por entre os seus lábios. "
(este excerto faz parte do meu projecto para o concurso)
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