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Apareces-me em sonhos sob essa capa negra. Entras assim de mansinho, abres essas portas e janelas minhas e instalas-te no salão principal.
Agarras meu coração morto, com essas mãos sujas desse sangue que me pertence, desse que por ti chorei.
Surges assim sob esse manto de nuvens trazendo teu nome ao peito, peito esse que levas quando acordo, quando vivo e te amo.
Gostava de saber como foi o dia em que me esqueceste.
Ou se me esqueceste.
Queria saber como tomaste a decisão de me apagar da memória.
Ou se me esqueceste.
Porque o não saber apoquenta-me a alma. Estas sombras de ti, estas lembranças fantasiosas desse nós que um dia prometemos um ao outro, esse nós de ambos deixamos morrer e nunca procuramos ressuscitar.
Essas tuas palavras vãs, esses meus textos patéticos e dissimulados. Oh inocências que ainda hoje que tiram o sono e me roubam o futuro.
Só queria saber se pensas em mim. Ou se me esqueceste.
E, na mesma semana que oficializa a nova relação, decide que me quer ver, que quer falar comigo e saber novidades... Um ano depois de nos termos cruzado pela última vez...
O mundo perdeu equilíbrio, só pode...!
Vejo-te por entre uma espessa parede de vidro, fria, fusca, alta e interponível.
Não te oiço e não me olhas. Penso que assim o decidiste no momento que seguimos caminhos sem retorno um para o outro.
Mantivemo-nos no compasso descompassado das horas que não passamos juntos. E não mais nos sentimos.
Observo-te sem te ver. Pensas-me sem me saber.
Em sonho te mato e te renasço, em ti fico e de ti parto. Sempre aqui, em linha com este vidro que não acaba nem começa onde eu inicio e tu tens fim.
E tu, a ti te vejo na procura incessante do que tens sem saber por detrás do vidro que nos separa: quem te esqueceu, te perde e te vai asfixiando por não mais te respirar aqui, neste espaço onde jamais entras e quem te espera, quem mesmo sem querer e sem saber te vai esperando e te vê de olhos fechados…
Até em sonhos me mentes.
E como eu odeava que me mentisses. E o quanto eu odeio sonhar contigo.
Às vezes ainda me pergunto porque desististe.
Foi necessidade? Preguiça? Ou vontade própria?
Não me digas que foi a vida. A vida, essa que é minha, foi mais madrasta e não foi por isso que te perdi.
Não sabias? Sei que não. Nunca perguntas-te.
Foi por ela? Pela outra? Por necessidade? Ou teve de ser?
Às vezes ainda me pergunto porque esqueceste.
Às vezes gostava que me explicasse porque tinha de ser eu a propagar-te – sempre, enquanto tu me esquecias.
Às vezes ainda gosto de ser tua amiga. Mas, depois lembro que me perdeste na tua confusão, no teu desperdício de espaço, no teu pecado. E para teu mal.
Mas, às vezes, não é sempre, pois não?
Talvez, nos dias de chuva, te sintas tão perdido quanto eu.
E me imagines, aí ao teu lado, pintada a cores alegres.
Talvez, por entre a confusão dos dias, me vejas como nunca me viste: tua.
Porque mesmo presentes, nunca vivemos o mesmo mundo, a mesma realidade.
Por isso, espero, que talvez, a meio do caminho me vejas a acenar.
Me vejas, e te lembres, que do outro lado do mesmo mundo, eu te sorri e me despedi do que nunca tivemos.
Não quero mais falar sobre ti.
Não quero gastar as minhas palavras já ditas, para de ti falar.
Não te quero em mim, não quero nada de teu. Nada do nós que se perdeu.
Não quero proximidade. Não quero distância. Não quero nada.
Porque no fundo, sempre estivemos demasiado longe, mesmo estando lado a lado. Sempre estivemos em mundos paralelos.
Porque, na verdade, sempre foi assim: nada, frio e abismo.
Sempre foi, e ainda é.
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