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Há um silêncio que rodeia as más notícias.
Uma luz clara. Um sinal néon. Ao longe.
Há sempre uma falta de palavras e de sons em redor de uma má notícia. E um laço. Bonito. Bem feito. Que a decora.
Há uma ilusão que dança a volta de uma má notícia. Uma fé. Um ouvido surdo. E uma língua que não fala, mas quer dizer. E uma mágoa na boca de quem a diz pela primeira vez. E uma vida diante dos nossos olhos, que sonhamos e não sabemos se vamos poder viver.
Desfruto o silêncio com a mesma devoção e amor com que procuro preenchê-lo.
Rejubilo e enlouqueço nas noites quentes e caladas em que, horizonte escuro como breu, espero que ninguém note que, aqui sozinha, não passo de mais uma pessoa só e calada, assustada e fascinada com o silêncio que aqui se faz.
A felicidade, descobriu, nunca ia ser um estado permanente. Não havia feliz para sempre, nem sempre feliz.
A felicidade vem em ondas; às vezes passamos por elas, outras mergulhamos, outras caímos nelas e a água entra-nos pelo nariz - e ninguém é feliz com água, mesmo que água feliz, a entrar pelo nariz (rima e é verdade).
A felicidade mais do que um estado, era uma interpretação de uma aula de surf que ela nunca teve - surf sem prancha num mar sempre cheio de ondas.
Tenho o corpo frio e a cabeça quente. As mãos geladas aguardam, vazias, o passar do tempo.
As folhas dançam com o vento e eu balanço os pés a procura de força.
Para andar. Para sair. Para ficar.
Para ir a procura.
As folhas beijam-se umas às outras, às turras e aos atropelos. Algumas tocam-me na pele desnuda e arrepiada. Não são, porém, beijos que me roubam, naquela rua ventosa. Beliscam-me a mão. Uivam, secas, nos meus ouvidos como quem me pergunta quando e porquê.
O tempo passa devegar e as horas passam depressa.
E, eu não passo, porque os pés frios não me levam mais além. Nem a lado nenhum.
Sacudo os pés à entrada. Pouso a chave de casa na mesinha agora poeirenta. Ponho o coração no bolso. Fecho os olhos ao de leve, enquanto respiro fundo. É mais fácil assim.
As tuas malas estão atrás da porta. A tua presença debaixo do tapete. O teu nome dança com as partículas de pó que sacudi da sola dos sapatos novos.
A casa está vazia. O silêncio grita.
O meu coração, agora guardado, agita-se na algibeira.
Podia dizer que me chamo saudade. Mas, a verdade é que me batizaram, em segredo, solidão.
Há um ano aterrava em Londres. O cheiro a mudança estava empregando no ar. Mas, nós, cheios de sonhos, embriagados de vontade de viver não o sentíamos. Não ainda.
Fui imensamente feliz naqueles dias. Verdadeiramente.
Quando regressamos, o mundo, tal como achava que o conhecia estava de pernas para o ar. O mundo, conforme o conhecia, nunca mais seria o mesmo.
O mundo está congelado no metro de Londres. Em Piccadilly. No Soho ou em Camden. Num sorriso perdido em Shoreditch ou Brick Lane. Num flor do Mercado de Columbia Road.
O meu mundo, tal como achava que ele seria, está congelado em Londres.
Sinto muita falta do sabor da liberdade. Do sabor de novas aventuras. De apanhar aviões, roer as unhas e comer com as mãos.
Quando tudo acabar, quero voltar a londres Para descongelar isto.
2020.
Por onde começar. Longo, penoso. Mas, tão magnífico.
Nunca quis tanto o que não tinha. Até perceber que tinha tudo o que precisa.
Fui a Londres, vi os Keane e a Sara Bareilles. Andei de avião, de metro e autocarro. Comi na rua, andei hipnotizado a compasso com multidões de desconhecidos. E depois a vida parou. E passei a andar de máscara e viseira.
Comprei álcool etílico ao preço de ouro.
Fiz pão - MUITO pão, bolos, bolachas e chás.
Fui obrigada a parar e aprendi a bordar, a cozer a máquina, a fazer vasos de barro e soube que não sei parar.
Descobri cantores novos e músicas que deram cor aos meus dias.
Nunca trabalhei tanto, mas, também nunca passei tanto tempo com a família.
Tentei comprar casa. Como não aconteceu, tornei-me naquelas pessoas que compram plantas de forma desmesurada. Tornei-me mãe de dezenas de plantas.
Mudei a decoração do quarto. Várias vezes.
Fiquei obcecada por Killing Eve e por macramé.
Instalei aplicações para saber como não matar plantas e mudei de trabalho.
Soube que era muito amada. Senti-me a rainha do mundo. Mas, também me senti desperançada.
Fiz duas road trips com a minha irmã.
Fomos muito inventivos na forma de matar saudades. E fiquei com imensos vales para concertos que não fui.
Tivemos todos saúde e estivemos juntos, quando tudo foi fácil, mas principalmente quando tudo foi difícil.
As máscaras de 2020 guardam muitos mais gargalhadas do que lágrimas.
2020 obrigada. Foste inesperado, difícil, mas mostraste-me muito do que precisava de saber.
Vamos a isto 2021.
Os dias passam, tropeço neles e continuo a correr. Aos trambolhões, de má cara, peito aberto, braços estendidos.
Fujo das letras, com tanta pressa como com a que fujo do que sinto.
E avanço. Nunca sei onde vou. Nunca paro pelo caminho.
Não te quero chamar pelo nome, Essa intimidade dar-nos-ia confiança aos dois. De eu te conhecer e tu me achares tua.
Não tomemos a liberdade de darmos esse derradeiro passo em frente.
Se te cair nos braços, não mais me volto a erguer. Estamos ambos cientes disso.
Deixa-me fingir que não te sinto o aroma, o sabor salgado a mar, na boca. Que não me apertas o coração quando te penso. Que me entorpeces a mente quando te pressinto.
Deixa-me continuar a fingir, que não te tenho a respirar-me no pescoço, que não te guardo no bolso da camisa, imaculadamente branca. Que não te sinto, medo.
A rotina e os lugares comuns fogem-me por entre os dedos esguios. Caem-me do colo, desarrumam-me a cabeça e abanam-me o coração.
Esqueci-me do conforto há muito, bicho inquieto.
Nunca fico aqui muito tempo...
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