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Desenterrei o coração para te amar. Pó e cinza e dor e medo em cima da mesa.
Fiz das tripas coração para te amar. E amei-te com as tripas, o pó, com os braços e mãos. Amei-te com o corpo todo e aos trambolhões.
Amei-te. Porra. Amei-te com os órgãos que não tinha, com o coração ferido, com a cabeça no lugar para ter concentração suficiente para te amar sempre.
Podes rogar-me pragas por causas tolas, por dores tuas. Nunca me podes maldizer por não te amar. Por não te amar com urgência e religião.
Amei-te- Amei-te, porra. Se não te tivesse amado não me tinhas na mão. Não me tinhas deixado sem chão.
Porra, porque é que te fui amar…
Concordamos não fazer perguntas. Dizias que as minhas palavras enxiam os espaços que querias guardar dos meus silêncios.
Nunca fui mulher de estar calada. Mas, amava-te e isso deixava-me sem querer quebrar o encanto que dizias tirar dos meus silêncios.
Queria perguntar-te se me amavas. Queria perguntar-te tantas coisas. Fiquei calada porque te amava.
Não sei como chegamos ao dia em que não tenho nada para te perguntar. Aos dias em que o silêncio entre nós é morto e não mágico. A estes dias. A este dia.
Deixava sempre definir-se pelas coisas erradas.
Primeiro pelo trabalho. Depois a falta dele.
Pela família, ou a falta dela. Ou pela opinião dela.
Pelo cabelo. Pelo marido. Ou pela falta dele. Ou de ambos – ele e o cabelo dela.
Cortou o cabelo.
Saiu do trabalho.
Manteve-se solteira.
Divorciou-se das opiniões alheias.
Tapou os ouvidos e começou a ser ela: Indefinida.
- O que tens? - perguntou ele poisando-lhe a mão no fundo das costas.
Não tenho nada. Acho que o problema é esse. Nem sei o que hei-de querer. Quero tudo. Mas, não sei como conseguir alguma coisa, quando mais conseguir tudo. Queria respirar melhor. Parece-me sempre que o ar é mais pesado para mim do que para os outros. Talvez seja. Nunca te vi a arfar enquanto corres.
Estou cansada. Não me quero rir. E se eu me tornar essas pessoas com medo? Não me quero esforçar para ser feliz. Nunca vi ninguém fingir que é feliz. Isso não é vida, pois não?
- Não tenho nada... - respondeu ela, começando a andar muito depressa fazendo com que ele deixasse cair a mão ao lado do corpo.
Ele espera que ela se esqueça dos medos e volte para casa.
És o som das palvras que calo. O vento por entre os passos que não dou.
O espaço livre da minha cama. o escuro no meu peito.
És a estrela cadente. O muro a meio do caminho.
És a diferança entre as partes que se somam enquanto eu me divido.
És a dor no corte da pele fina que rasgas com os dentes.
És o tempo. O tempo que me mata de espera.
Nas marés em que me perco sinto as tuas ondas baterem-me nas faces. Não me acaricias. Gritas-me com o vento, gritas-me com a espuma das tuas horas.
Nesse mar onde nos perdemos, encontro-me. Só. Pelo menos não mais só do que quando o oceano era nosso.
Neste mergulho que me afoga mantenho a cabeça acima das águas e o coração a meus pés. Luto com a força que tenho e a que me levam à praia para não os perder - a cabeça e o coração.
Sou pobre de tudo, molhada das mágoas que me atiras à cara com essa força bruta de quem me mata sem me ver.
Mas, sob estas tempestades e tormentas vou sempre dar o litro de tudo o que conservo: coração e cabeça.
Amor. Não mais queria escrever sobe amor. As suas ideias perdidas, os seus ardis perigosos. Aquela dor que não dói, ar que não se respira e fraqueja. O coração que passa de mão em mão. E cai. As palavras doces, o mel derramado. Os gritos, o prazer e o desgosto.
Poisou o lápis. Não mais queria escrever sobre amor. Não mais amor a lápis. Agora, decidira, era a caneta. Desamor vivido. Amor perdido, até alguém o tomar. E o escrever. A tinta permanente.
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