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Tenho andado a evitar escrever-te.
Dizer que guardei os teus beijos na minha clavícula. Que te penso. Ou que te sonho.
Tenho evitado diz que, as tuas palavras deixei-as no mar. Espero que alguém as colha. As guarde e as declame em forma de poema.
Alguém que não nós, deve viver esta história, que não soubemos, mas, podia ser de amor.
São cartas de amor o que te escrevo quando me calo, nunca consentindo, enquanto engulo as histórias que nunca havemos de viver.
Quero lembrar-me da quietude. De O mundo continuar a girar preso no pêndulo do relógio e eu me afundar no sofá sem me mexer.
Sabes, ás vezes a paz é tão ensurdecedora que o tempo parece estático e, enquanto tudo se move, o futuro, pequenino, é aqui apenas isto: uma noite de silêncio.
Mexo sempre o café, mesmo que já há anos o beba sem açúcar.
Às vezes gosto de pensar que as coisas mais amargas adoçam quando mexemos nelas.
Nunca as senti mais doces. Mas, gosto de acreditar que sim.
Queria calma para escrever com calma.
Procuro-te sempre em cada nascer e pôr do sol.
Em cada mão: dedos desconhecidos e com anéis grandes.
Procuro-te em vozes alheias. Meigas e altas. Num tom que nunca será o teu. Em risos desconhecidos e em estranhos.
Procuro-te por entre as nuvens. Em cada pingo de chuva. Em cada sopro do vento que me desperteia o cabelo.
Procuro-te sempre. Acho-te quase sempre. Sentado ao meu peito. Entrelaçado no meu dedo, com as tuas iniciais.
Chove há semanas.
As gotas de chuva cravaram-se nos vidros das janelas do quarto em dias que parecem infinitos. O vento arrepia-me a pele sempre, atrevida, o enfrento.
Tenho acendido velas a mais. Desperdício de pavios curtos como o meu. Pondero ser cada vez mais ponderada. A minha primeira ponderação tive-a contigo, bem sabes.
Cortar o mal pela raiz. Em silêncio. Fechar eu a porta que tinha deixado aberta para ti. Nunca saíste do alpendre do meu peito. E eu estava pronta para te dar o quarto principal, aquele com vista para o futuro.
Mas, tu ficaste ali parado tantos dias que parecem infinitos.
Chove há semanas.
O vento arrepia-me a pele sempre, atrevida, o enfrento. Pondero ser cada vez mais ponderada, mas ainda acedo velas a mais.
Não faz sentido, eu sei.
Mas, por momentos, pensei que ias ficar por mais tempo do que um se. Tão pequenino. Um sopro por entre os dentes. Se.
Eu sei. Não faz sentido.
Sou a soma de todas as desgraças. De todos os caminhos finitos e que não iniciei.
Sou o resultado de todas as equações de que fiz parte e de que me substrai.
Sou o cálculo do caos e da calma. De todas as histórias que contei e de quis não quis fazer parte.
Do amanhecer do meu corpo inquieto e cansado em todos os dias que soube que não era o meu final.
O problema não é o final. Foi eu achar que estava a viver o início.
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