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2020.
Por onde começar. Longo, penoso. Mas, tão magnífico.
Nunca quis tanto o que não tinha. Até perceber que tinha tudo o que precisa.
Fui a Londres, vi os Keane e a Sara Bareilles. Andei de avião, de metro e autocarro. Comi na rua, andei hipnotizado a compasso com multidões de desconhecidos. E depois a vida parou. E passei a andar de máscara e viseira.
Comprei álcool etílico ao preço de ouro.
Fiz pão - MUITO pão, bolos, bolachas e chás.
Fui obrigada a parar e aprendi a bordar, a cozer a máquina, a fazer vasos de barro e soube que não sei parar.
Descobri cantores novos e músicas que deram cor aos meus dias.
Nunca trabalhei tanto, mas, também nunca passei tanto tempo com a família.
Tentei comprar casa. Como não aconteceu, tornei-me naquelas pessoas que compram plantas de forma desmesurada. Tornei-me mãe de dezenas de plantas.
Mudei a decoração do quarto. Várias vezes.
Fiquei obcecada por Killing Eve e por macramé.
Instalei aplicações para saber como não matar plantas e mudei de trabalho.
Soube que era muito amada. Senti-me a rainha do mundo. Mas, também me senti desperançada.
Fiz duas road trips com a minha irmã.
Fomos muito inventivos na forma de matar saudades. E fiquei com imensos vales para concertos que não fui.
Tivemos todos saúde e estivemos juntos, quando tudo foi fácil, mas principalmente quando tudo foi difícil.
As máscaras de 2020 guardam muitos mais gargalhadas do que lágrimas.
2020 obrigada. Foste inesperado, difícil, mas mostraste-me muito do que precisava de saber.
Vamos a isto 2021.
Aos 26 cresci muito. Mudei. Reinventei-me.
Nunca me senti tão eu. Tão confiante e frágil. Tão mulher.
Tão certa de mim. Tão orgulhosa da minha força, das minhas crenças e tão poucas certezas. Do meu espírito livre e mordaz.
Nunca me senti tão eu como nos 26. Como se a minha carne se tivesse moldado melhor ao meus ossos. Mais justa, mais apertada. Mais firme. Mais rija.
Aos 26 viajei. E gritei. Em bem da verdade, gritei bem mais do que viajei. Mas, apreciei bem a vista de ambos.
Aos 26 fervi sem água. Ou com água a mais. Revoltei-me. Fui ao inferno e voltei - mais forte.
Aos 26 devo ter batido um record qualquer de horas sem dormir, horas trabalhas e palavrões ditos com a boca e com a alma. Aos 26 segui sempre o coração e o sangue quente.
Aos 26 abri o coração e quis (quero) deixa-lo sempre assim: ao léu.
Hoje faço vinte e sete anos. Por extenso. Porque quantas mais letras melhor. Melhor, hoje, faço vinteeseteanos. Sem espaços e sem tempo a perder - não se perca o balanço e a vontade.
Hoje faço vinteeseteanos. Também faço dois anos, dois meses e cinco dias.
Hoje faço vinteeseteanos. Entro certa de mim e completamente incerta do ao meu lugar no mundo. Certa do fosso entre o onde estou e o onde quero estar.
Entro consciente e certa de mim. Grata pelas pessoas que me fazem sentir viva e que cuidam de mim quando eu própria me esqueço de o fazer.
Parabéns a mim, Obrigada a vocês.
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