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Trago os sonhos dormentes.
Deitados nas bochechas fartas. Dormitam-me nas pálpebras, enroscados nas pestanas.
Observadores do mundo que tanto anseiam tomar como seu.
Embalo os sonhos com canções gastas e voz desafinada.
Pego-os ao colo com muito cuidado. Como se fossem de vidro.
Guardo-os assim. Mornos. Recém nascidos, pequeninos. Frágeis.
Guardo os meus sonhos encostados ao peito nu, não adormecidos, mas a sonhar.
Enjaulei os meus sonhos e eles têm-me como refém.
Fechei os meus sonhos, esses seres selvagens, a cadeado no fundo do estômago. Onde me pesam e me castigam.
Penso muito neles. Tanto que perdem sentido. Que doem por nada serem. Que matam enquanto me esforço por os esquecer.
De todas as vezes que lhes digo que estou cansada. Que agora não tenho tempo, os meus sonhos afundam-se no meu corpo e doem mais. Pesam. Peso morto.
Há noites em que, indomáveis, gritam e agitam as grades da jaula. Nessas horas nascem de novo. Mais bravos que nunca, mais mortíferos. Nessas noites faço-lhes o pranto e adormeço enquanto os acaricio com lágrimas.
Guardo os sonhos na minha metade mais selvagem, mais barulhenta, mais sem rumo, mais sem fim.
Os sonhos estão-me na metade sem dono. Na metade fugitiva. Na metade só minha. Na metade que é de ninguém.
Ela tem sempre o bolso cheio de alma. Como se a sua essência fosse demasiado extensa ou pesada para trazer dentro do peito.
Anda sempre atrasada e com pressa. Nunca chega a horas, mas, vai sempre a tempo.
Não consegue correr, mas é das pessoas mais rápidas que conhece.
Não gosta de contradições, mas é sempre a primeira a duvidar. Sempre.
Ela tem os bolsos cheios de alma. E as mãos cheias de coração. Guarda no peito os sonhos, é por isso que esta cheia e sem espaço para mais nada.
Ela está cheia de sonhos - a abarrotar.
Um destes dias, tentei matar-me os sonhos.
Assim, de faca em punho, tentei degola-los, faze-los perder a vida de que me fazem viver.
Mas, os danados, de tão meus, que se recusam a morrer. Não morrem os danados.
Que imortais são os sonhos que eu tento matar. Oh, como são duradouros e sonhados, esses sonhos meus, esses que sonho e mato, esses que vivem e que me dão viver.
Apareces-me em sonhos sob essa capa negra. Entras assim de mansinho, abres essas portas e janelas minhas e instalas-te no salão principal.
Agarras meu coração morto, com essas mãos sujas desse sangue que me pertence, desse que por ti chorei.
Surges assim sob esse manto de nuvens trazendo teu nome ao peito, peito esse que levas quando acordo, quando vivo e te amo.
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