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É a esperança o sentimento mais bonito e puro de todos.
Chegada da escola, larguei a mochila à entrada. Depois, sentei-me no chão do quarto da minha mãe estarrecida a olhar para a televisão.
Andava no secundário, tinha o bolso cheio de sonhos e sentia que estava a testemunhar história. E estava.
O primeiro presidente negro dos Estados Unidos da América. Barack Obama.
Hoje, 8 anos depois, uma pequena vida passada, sinto-me impotente. Chocada, ofendida. Como nos poderem fazer isto? Como vamos evoluir? Como vamos seguir em frente?
Não sei, sinceramente, o que esperar. Não me apraz nada de bom. Espero estar enganada...
A C. é uma das melhores pessoas que conheci nos últimos tempos. Com um ar angelical, não tem noção de como é bonita, de como é suave e de como tem uma presença agradável.
Educadora de infância, depois de ter tentado de todas as formas exercer a sua profissão, acabou num supermercado. Por entre 6 contratos de curto prazo, lá casou e nasceu a L. – a menina mais fofa deste mundo e dos outros.
A C. foi uma das minhas “mentoras”. Ensinou-me o que sabia e os truques necessários para se sobreviver na selva mercantil que é um supermercado.
Todos os dias lhe pergunto pela L., todos os dias me conta uma aventura nova da pequenita.
Sei que ela passa dificuldades, que o dinheiro não abunda. Sei que o marido está desempregado, sei que a L. teve de sair do infantário e sei quando ficou doente e como recuperou.
Sei porque, quando posso, escolho sempre a caixa mais próxima da dela – desenvolvemos a capacidade de falarmos uma com a outra, com os clientes e ao telefone ao mesmo tempo que trabalhamos.
Um dia destes, numa tarde normal, ela disse-me que se ia embora, que ia emigrar. Eu, de raciocino lento, continuei a trabalhar, ignorando a conversa. Suponho que na altura não estivesse a processar bem a informação.
Dois minutos depois, virei-me para trás, deixando a mão trabalhar automaticamente, e, ela repetiu “Vamos para NY”.
Sem pensar, respondi apenas “Vou contigo”.
E ela, nada surpreendida, disse-me, no seu tom habitual, “Dou-te o que me dão a mim: casa e comida”.
Depois, nas horas seguintes, contou-me os pormenores da viagem, de como o marido ia na frente, ter com um irmão, emigrante há mais de 20 anos.
Empregada de supermercado por empregada de supermercado, em NY estou mais próxima do sonho…
E, ando a pensar nisto... mesmo à séria....
Fotos daqui
E, agora adormeço a olhar para ele (postal) e para ela (cidade).
Obrigada, Maria. Um dia aí nos encontramos.
Sempre que vejo um invento deste género, sinto que, de alguma forma, estou a entrar dentro da história. Sinto, aqui, em minha casa, a uma distância incontável, mais esperança no meu futuro, naquele pais que não é meu, do que neste a que pertenço. Aquele presidente que não me governa, dá-me as palavras de fé e confiança que os meus governantes me tiram.
É irracional, mas a esperança que ali se apregoa, aquela que faz a bandeira deles ondular naquele vento de corações, preenche-me a mim, a mim que em nada se lhes relaciono.
Que hoje seja assim na minha vida: que nasça um arco-irís depois das minhas tempestades.
Façam figas - mais uma vez, acho que vou precisar!
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