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Perdi muitas horas da minha vida a desejar saber cantar. Se capaz de subir a um palco, fazer as notas mais espetaculares de sempre, ter uma voz de anjo e uma afinação soberba. Se pudesse dançar ao ritmo da música então era assim a perfeição.
Queria cantar-vos. Fazer-vos ir às lágrimas com a voz - esse tal de orgulho cantado...
Mas, ao longo destes meus infrutíferos períodos de reflexão rapidamente percebi que como cantora não ia longe. Tenho gosto mas sou um desgosto. Gosto muito mas isso não chega.
Com o passar do tempo descobri que é nas letras que sei nadar – sem água que também não sou grande peixe.
Jamais vos cantarei mas escrevo-vos. Com todo o meu coração. Toda eu – toda vossa.
Penso em ti como se fosses uma personagem de um filme que eu vi há muito tempo. Um filme que não me lembro do final e, onde, em meia dúzia de minutos a personagem principal foi de criança a adulta. Uma história, onde, por distração, perdi o fio à meada...
Sinto-te longe e crescida. Quando mais afastada, maior.
Imagino que continuas com pressa, assim como eu ainda estou sempre atrasado... Imagino-te tanto…
Sinto-te tão aqui - porra, estás tão aí.
Uma vez tivemos um filho.
Não me digas que não te lembras que eu nunca te considerei esse tipo de pai.
E, hoje, no meio de um monte de tralha que vou ineditamente acumulando na minha gaveta da mesinha de cabeceira dei de caras com ele - com o nosso filho.
Não está maior, nem mais pequeno. Está, sem dúvida mais velho e mais feio (puxou a ti), e, ainda continua a ser um desengonçado galho de bonsai que não vingou.
Espero que te lembres com precisão de todas as informações básicas sobre o teu (o nosso) primogénito (como o facto de quereres que eu tivesse o teu nome e das discussões que isso despoletou no seio da nossa relação de recém-pais de uma mini árvore).
Tenho-o aqui na mão - um galho seco, a desfazer-se, de um arbusto que fingimos ser bonsai, na época em que fingir que tínhamos filhos era moda nos morangos com açúcar.
E, meu caro, esta é a verdade: estamos tão ou mais secos que o nosso filho, e, o nosso Marcelo, está tão morto como a nossa relação.
Mas, não deixa de ter graça que eu tenha guardado o rapaz, pois não? Isso sempre quis dizer alguma coisa...
(este excerto teve como inspiração a minha visita ao meu filho real, a árvore acima, plantada na minha antiga escola, na altura em que, à custa dos morangos com açúcar, todas queríamos um filho a fingir)
Circundamos sempre a palavra amor sem, de facto, lhe tocarmos.
De mãos dadas, num dia frio de inverno, trilhamos a amizade e percorremos a paixão. Andamos em círculos – sempre em redor do amor. Em passos largos, andar sincronizado.
Nunca tocamos o amor e salvo raras assustadoras exceções falamos sobe ele – assustar-nos-ia?
Eu amava-te como quem ama pela primeira vez – sem reservas sem medos. Tu amavas-me como amas tudo o que tens – de olhos semicerrados, sempre espreitando por detrás do ombro com medo de perderes alguma coisa mais importante.
Eu amava-te e tu, algures, também me amaste – nunca fomos mestres da sintonia, pois não?
Ainda não parei de andar em círculo em redor da grande questão que nunca colocamos um ao outro – esse tal de amor, e tu, já paraste?
(...) Ontem, cheio de um amor que não é teu (nem meu, para dizer a verdade), escrevi-te uma porra de uma carta, e hoje vejo-te!
Sempre soube que essa escrita que desde sempre me quiseste impingir era só uma das muitas formas de te assegurares que eu jamais te esquecia. Sempre soube – nunca me importei.
Mas, agora importo. Tenho de parar com isto – para bem de todos. Para meu próprio bem…
Vou dedicar-te todas as coisas bonitas que fizer na vida. Mesmo as mais pequenas e insignificantes - vou dica-las sempre a ti. Em pensamento, com o coração.
Ensinaste-me a amar-me mais, a pôr-me em primeiro lugar. Ensinaste-me a amar-me, e isso não tem preço.
Dedico-te todos os meus feitos mais bonitos não porque mereças - mas, para me lembrar que eu mereço, que vou sempre merecer.
Não que eu ache que te vá encontrar por aí, sozinho numa rua fria, numa dessas noites em que me quero perder o mundo.
Nunca pensei que estivesses só ou o sofrer. Imagino-te sempre a sorrir, acompanhado por gente bonita e equilibrada.
Mas, a minha mente não te vê nas ausências, nos medos, nas noites em que sentes frio - aí dentro, lá dentro.
Não acho que te vá encontrar nas ruas da saudade, mas acho que me podias acompanhar num adas minhas vistas. Quem sabe se não te encontras por lá, no lado de fora do meu coração.
Fevereiro
....
Odeio o carnaval. Talvez seja quase possível afirmar que odeio o Carnaval quaseeeeeee da mesma forma completamente convicta com que amo o Natal (e não, sabes bem, que não é pelos presentes! Nem por achar que um destes anos me apareces numa caixa com 1,80m, com um laço e papel dourado. Não. (E, além do mais, tu nem medes um 1,80m….)).
Odeio o carnaval da mesma forma que odeio guarda-chuvas ou minhocas ou baratas ou barulhos nasais (pessoas limpem o nariz por amor de deus!!!). Odeio e pronto. Não é uma coisa destrutiva. Não é como se andasse por aí a queimar fantasias de marinheiro, macaco ou domador de leões. Mas, odeio-o o suficiente para evitar as pessoas que vestem as ditas fantasias.
Acho que todo este trauma (Eu não disse trauma, ok?) se deve a um acontecimento isolado quando eu era bem pequena e relaciona e a minha pessoa com uma fantasia de macaco horrificamente horrifica, num beco escuro (ou pelo menos eu imagino um king Kong gigante e uma rua escura, mas pode muito bem ter sido o macaco Adriano a tentar dizer-me adeus, ao longe, em plena luz do dia…).
Tudo isto para dizer que, embora lá fora haja multidões (outra palavra que odeio!) a afogar-se em confettis e serpentinas (duas palavras que eu AMO!), eu estou sã e salva, em casa (e sim, comprei dois sacos de confettis e dois de serpentinas que não sei nem quando nem onde vou usar.) e, a escrever-te mais uma carta doentia. Yey, para mim!
Ela, ela, ela...
Sempre ela mesmo que ela já não fosse minha, e fosse só dela.
Aliás, acho que ela nunca foi minha, nem minha, nem de ninguém. Às vezes nem sabia se ela era dela. Havia ali uma afirmação livre, um desapego das coisas, de tudo, uma despertença total.
Não a vejo há tanto tempo que, por vezes, a mente me atraiçoa e esqueço-me do brilho do cabelo dela, dos olhos dela. Dela.
O tempo é inimigo da memória. Do amor. Não o mata, quanto menos o esmorece, mas quer fazer-nos acreditar que ele é ultrapassado. Dá-nos mais, mais amores, outros amores, diferentes e únicos, porém assegura-se que o primeiro permanecesse nas coisas mais simples. Em nós.
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