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Este ano não escrevi resoluções, nem fiz grandes promessas. Percebi o ano passado que com a loucura que é o meu dia-a-dia, não posso prometer grandes coisas.
Pedi, e relembro-me a cada hora que passa, equilíbrio. Porque sei que se conseguir chegar ai o ponto em que consigo estabelecer prioridades criar limites consigo resistir.
Depois disso, é deixar ir...
Não penso muito nas desventuras. Arrumo-as a um canto. Dispersas, mas próximas. Suficientemente próximas para, um dia, me puder sentar a um canto, segura-las, e pensa-las.
Ainda não pensei no acidente. Segui em frente. Ainda não pensei na crise alérgica.
Um dia, vou sentar-me, e escrever sobre 2016. Nesse dia pego nelas. Nesse dia penso que este ano já quase me matou duas vezes. E penso na calma que me rodeia quando a morte chega.
Falta pouco 2016. Não te vou deixar terminar-me.
Acabei de sair do hospital, 8 horas depois de ter dado entrada com uma crise alérgica severa.
Estava no trabalho, calma e serena, quando me começaram a inchar as vias respiratórias e a língua.
Os meus colegas de trabalho, sangue frio, chamaram a ambulância, convencidos de que eu estava a ter um ataque qualquer.
No decurso da viagem, fiquei com a visão turva, a pele toda empolada, cara, testa e pescoço inchados e vermelhos.
Quando fui atendida já mal respirava (e fui logo atendida!)...
Tive de tomar medicação duas vezes (adrenalina) porque os efeitos teimavam em não abandonar o meu corpo.
Estou exausta... Tão, mas tão cansada...
Não ter morrido no acidente foi sorte. Aliada á sorte, tive outra sorte: o facto de conduzir um carro de 1992. Osso duro de roer até para os railes de segurança.
Depois daquele dia, ficamos em dilema: arranjar ou não o carro. Precisava de peças – muitas. Precisava de uma frente nova. Precisávamos que alguém, com igual sorte à minha, que fosse mais desapegado e mandasse a sua viatura para a sucata para que pudéssemos salvar o nosso.
Esperamos. Comecei a conduzir outro carro. Sempre com peso. Sempre com remorso. Matas-te um e agora andas com outro como se nada fosse.
Sempre disse que queria o meu carro. Mas, sempre me afastei da decisão final: estava demasiado envolvida para ter uma opinião isenta.
O carro chegou quinta-feira.
Quando o vi, novo, brilhante, sem aquele ar desgraçado com que o vi pela última vez.
Hoje conduzi-o pela primeira vez. Primeiro muito devagar. Depois com a confiança de quem já partilhou muitos segredos estrada a fora, madrugada a dentro.
No rádio, quase sempre na Renascença, rezava-se a missa. Posso ter uma fé muito fraquinha, mas há momentos em que todo o universo conspira e congemina para momentos perfeitos. Já vivi uns quantos.
Os vinte e quatro acabaram com muito trabalho e comigo atrasada para a mim própria festa de anos (ok, não era uma festa, mas eu ás 19h, ainda nem sequer bolo tinha).
Houve presentes bons. E palavras que aqueceram.
Fiz bolo de limão. Porque quando a vida me der limões quero fazer sempre limonada.
(E, fiz lemon curd mas isso é só porque sou chic).
Obrigada a TODOS pelas palavras doces. Tenho precisado muito delas!
Aos 24 andei de avião. Vi o mundo e vi o fim dele. Trabalhei num talho, numa peixaria e numa padaria. E, assumi um compromisso com um trabalho que ainda não sei se gosto.
Comprometi a escrita, mas também escrevi muito. E calei as letras porque caladas doem sempre menos.
Li pouco e trabalhei horas a mais. Ouvi boa música, viajei, fiz uma road trip e fiz decisões difíceis. Levei a irmã a casa, quando a tirei de casa.
Hoje faço vinte e cinco anos. Por extenso. Porque quantas mais letras melhor.
Hoje faço vinte e cinco anos. Mas, também faço dois meses e cinco dias. E, nunca tinha percebido o quão bom é estar vivo.
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